segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Curso de roteiro

Por Fábio Ochôa


Há pouco tempo, a professora de História em Quadrinhos da UFPel perguntou se eu não desenvolvia algum tipo de oficina de roteiro (área deficitária em 99% dos alunos).

Sempre escrevi, hoje trabalho profissionalmente com texto, mas nunca tinha sistematizado uma construção criativa, como quase todo mundo, aprendi na tentativa e erro o que funcionava e o que não.

O que você vê abaixo e nos próximos posts, é o andar deste curso, e lembre-se, tudo abaixo é completamente subjetivo.



Vamos começar, antes de qualquer outra coisa, com uma rápida (porém muito útil) reflexão. Boa história, com certeza você já ouviu, leu e usou esta expressão muitas vezes, mas me explique rapidamente: o que exatamente é uma boa história?

Se você conseguiu responder, já está a meio caminho andado para ser um bom roteirista. Saber o que é, para então chegar lá.

Uma boa história é aquela que pode até não mudar a sua vida, mas que tem força o suficiente para prender sua atenção pelos 10, 20, 30 ou 50 minutos que a revista estiver em suas mãos, aquela com força de imersão suficiente para fazer aquela realidade de papel engolir, mesmo que por este curto período de tempo, a nossa realidade.

Uma boa história é o drama que realmente emociona, é a comédia que realmente diverte, o terror que realmente perturba e a aventura que realmente empolga, resumindo: é a história que sabe exatamente qual é seu objetivo e cumpre ele.

Sempre quando escrever saiba disso: qual seu objetivo. Sem ele, não há nada, exceto perda de tempo.

Resumindo, boa história, é aquela que funciona.

Vamos estabelecer então, três regras mais ou menos básicas para a criação de qualquer história:

Regra 1- Sempre exerça a originalidade

Meu caro amigo, acredite, ninguém mais quer ver um novo personagem que se fantasia de herói para vingar a morte do pai (ou mãe, ou tio, ou cunhado, cachorro ou demais graus de parentesco) ou a história do pobre grupo mutante que luta por igualdade no mundo que os odeia. Não estou falando isso gratuitamente, você não faz idéia de quantos clones mal-feitos de Batmans, X-mens, Homens-aranhas etc eu encontrei nos quadrinhos amadores nestes últimos 20 anos, até quase me dar uma úlcera cerebral.

Batman, X-men e demais congêneres podem ser muito legais, admito, mas todos tem um grande problema técnico e prático: já foram criados.

E a pelo menos 50 anos.

Então, cabeça para pensar, ache uma idéia ou um ponto-de-vista razoavelmente novo, e quando ele surgir, agarre-o com unhas e dentes e não deixe escapar. Observe o que anda acontecendo à sua volta e NÃO faça igual.

Seja único, o máximo que puder.

Pense em qualquer roteirista ou desenhista que admire e você vai ver que isto foi justamente o que eles fizeram.

Ou parafraseando Francis Ford Coppola: “Faça apenas as histórias que somente você pode fazer”.

Regra 2- Encontre prazer no que faz

Obviamente quadrinhos não irão lhe render dinheiro no começo (e muito provavelmente nem no fim), seu tempo vai escassear, estudar, trabalhar, amigos, namorada, bebedeira, cinema, novela das oito, bordado, tricô, muitas coisas para distrair e em contrapartida, é necessário muito tempo para se tornar um bom quadrinista.

A solução? Encontrar algum grau de prazer ou satisfação em escrever e desenhar.

Deixe o fazer quadrinhos ser a razão em si. Se seu trabalho se tornar bom, ele irá achar seu espaço.

Nem que seja 50 anos depois da sua morte, mas eu nunca disse que a vida é justa.

Regra 3- Aprenda trabalhando

O mercado tradicional de quadrinhos é terrível. Simplesmente isso. E um lugar ao sol é a coisa mais difícil de se encontrar. Mas, repare que eu disse “tradicional”, certo? Isso não quer dizer que ele seja o único campo de quadrinhos que exista.

Existe campo para quadrinhos em diversas áreas: quadrinhos pedagógicos, publicitários, panfletários, tantas variedades quanto os meios impressos permitirem. Tremendamente sazonais, mas ricos de possibilidades inexploradas e oferecendo pagamentos bem maiores que qualquer editora tradicional (não que seja necessário muito para isso), além de ser um bom meio de aprender (pago inclusive) os rudimentos da linguagem, formatos, especificações, prazos, objetivos gerais, etc.

É a melhor escola possível para virar profissional.

Não sei quem inventou a idéia de que alugar o próprio talento para quem quisesse pagar por isso é pecado mortal e uma afronta à idéia de arte, mas provavelmente essa mesma pessoa devia achar que Da Vinci ou Michelangelo trabalhavam de graça para a igreja ou se alimentavam de luz solar.





4 comentários:

  1. Bah, valeu Fábio! Eram as palavras que eu precisava ler. Grande iniciativa essa tua! Vai ficar demais o curso todo! Parabéns!

    ResponderExcluir
  2. eu achei a idéia de um herói vingando o CACHORRO bem boa na verdade o_O

    ResponderExcluir
  3. Já deve ter algum filme do Van Damme ou do Steven Seagal assim.

    ResponderExcluir
  4. Tem um episódio do Hermes e Renato. Impagável.

    ResponderExcluir

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...