quinta-feira, 21 de julho de 2011

Pequeno Guiazinho de Quadrinhos Fantástico Cenário (parte 01)

1. Mafalda-



Criação máxima do cartunista argentino Quino, foi publicada ao longo dos anos 60. Simples na estrutura, profundo e mordaz nas entrelinhas.


É o maior sucesso dos quadrinhos sul-americanos (foi mal, Mônica).


Nos anos 80, saiu pela Martins Fontes o álbum Toda Mafalda, que compila todas as tiras da personagem, vale a pena procurar.



2. Tenente Blueberry-



Criação de Charlier e Moebius antes de ser Moebius (longa história), é um western clássico por excelência, narrando as aventuras de Blueberry ao longo de toda a história do oeste americano.

Quando Charlier morreu e Moebius assumiu os roteiros a qualidade despencou para níveis liliputianos.

Quando eu era criança- Meu pai, fã de faroeste como qualquer pai, havia comprado a edição Forte Navajo, história de cowboy, quadros pequenos, parecia chaaaato... Li só porque eu lia absolutamente qualquer coisa quando era pequeno.

A história tensa e espetacular, se tornou imediatamente um dos meus quadrinhos preferidos (e isso que não gosto de faroeste) e nunca mais saiu desta posição.

Relendo depois de adulto- É tão bom quanto naquela época, se não melhor. Personagens bem desenvolvidos, situações verdadeiramente emocionantes, sensação de perigo real, não se surpreenda se eventualmente você se pegar realmente torcendo pelo herói (qual foi a última vez que você fez isso?) e principalmente: a sensação de que qualquer coisa pode acontecer.

No meio de tantas obras que fazem verdadeiras piruetas narrativas e conceituais, hypes com citações baratas à cultura pop e/ou erudita, estética urbana e o cacete-a-quatro, é ótimo poder reler uma revista clássica, pautada apenas pela força de bons personagens e de uma grande história.

Atemporal. Como qualquer clássico. Reler é perceber como a gente lê muita coisa ruim por aí sem notar.

3.The Walking Dead-



De uma premissa simples (e que no começo eu não levava a menor fé) o roteirista Robert Kirkman conseguiu fazer o impensável: pegar toda a estrutura de um filme de zumbis e a transformar em 86 edições (até o momento) impecáveis, mostrando o cotidiano dos sobreviventes em um mundo em pleno apocalipse.

Com um começo relativamente morno, a série atinge lá pela 12ª edição ou mais, um status de obra-prima e daí não decaiu mais (contrariando não só as expectativas, como também a tendência natural de qualquer série de começar a perder o fôlego criativo com o tempo), acompanhando a trajetória de Rick Grimes, policial que desperta de um coma e encontra um mundo totalmente modificado, onde os mortos andam pela terra.

Tem algumas das sequências mais fortes já vistas em qualquer mídia, raramente apelando para o terror gráfico ou a nojeira explícita. Tudo está nos personagens.

Kirkman consegue em algumas sequências, como a de Rick e o telefone na casa abandonada (quem leu sabe do que estou falando), ou com a conversa do personagem e seu filho, quando ele constata que um menino de 9 anos imerso neste novo mundo simplesmente não é mais uma criança, criar uma atmosfera que para não sentir um aperto no coração... Bem, você tem que ser um morto que anda.

Recomendadíssimo.

4. Calvin & Haroldo-



Ou, a melhor história em quadrinhos de todos os tempos.

Esse não se sabe nem por onde começar, se pela caracterização, pelo elenco perfeito, pelo traço espetacular, pelo senso de design de página, pelos diálogos irretocáveis, pelo senso de humor hilariante, pela inteligência do conjunto, ou simplesmente pelo lirismo de uma tira que acompanha a amizade de um garoto que só quando você presta atenção percebe o quanto é estranho e solitário e seu tigre de estimação imaginário.

É uma tira de três quadros onde muitas emoções vem misturadas. Poder de síntese de um autêntico gênio, Bill Watterson.

Obrigatório. A Conrad anda relançando todos os álbuns da série.

5. Love & Rockets-



Os anos 80 foi uma das melhores épocas para os quadrinhos e uma das melhores coisas desta década foi Love & Rockets.

Criação dos irmãos Hernandez, a série conta o dia-a-dia de pessoas comum, como Maggie e seus encontros e desencontros com Hopey, contando assim, não parece nada de mais, mas a linguagem natural, o estilo "gente como a gente" que a história tem, chega às raias da genialidade.

Parafraseando Grant Morrisson, em comentário sobre a série, "Love & Rockets é como a vida, às vezes me parece simplesmente maravilhoso, às vezes parece que a história não vai para lugar nenhum".

Outro ponto bem interessante é que ao longo dos 20 anos de publicação as personagens envelhecem em tempo real, engordam, morrem, se divorciam... enfim gente como a gente.

Já Heartbreak Soup, a outra metade do gibi, narra o cotidiano de um vilarejo latino, as crônicas de Palomar, onde "os homens não são homens e as mulheres tem que ter muito senso de humor", ao longo das dezenas de personagens que fazem parte da série, existe muito humor, drama sério, dramalhões, sexo, pitadas de misticismo e realismo fantástico em uma obra que para só encontra paralelos na literatura (particularmente a latino-americana), sem igual nos quadrinhos. Decididamente.

Fábio Ochôa

10 comentários:

  1. Li algumas poucas tiras da Mafalda, Ochôa, e a impressão que dá é que ela é vinculada à situação política vigente na Argentina, o que a torna um pouco datada.
    Mas é indiscutível a sua crítica aos políticos, à ignorância humana e a tudo que atravanca a vida das pessoas de bem.
    Calvin é simplesmente genial, um moleque tentando entender o mundo adulto ao seu redor e achando graça nisso.
    Walking Dead (assim como Fábulas) fica melhor a cada edição, se mudassem o nome da hq para Desespero em Quadrinhos, ficaria adequado.
    Tenente Blueberry e Love & Rockets eu nunca li, fica a dica.
    Valeu.

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  2. Love & Rockets mora no meu coração. Me foi apresentada por uma amiga/irmã há muuuito tempo, eu admito que não gostei de cara - peguei umas edições aleatórias pra caramba!), mas a medida que eu lí aquelas 5 edições, eu fui me apaixonando. Infelizmente teno poucas edições "física", mas dá pra achar na net. É fabuloso.

    Bluebery eu só li uma história, em quatro edições, e não sei quem era o roteirista, mas achei bem construída. Nada demais, mas a arte é espetacular o suficiente pra prender o leitor por sí só.

    Mafalda é bom, mas plítico demais. Não é pro meu gosto.

    Calvin & Haroldo é divertidíssimo. Simples e eficaz. Lí muito pouco, mas gostei de tudo!

    Walking Dead... Não tem muito o que dizer. Eu não gosto de zumbis - ok, ninguém gosta deles! - mas como walking dead trata muito mais de pessoas e das estruturas sociais criadas por essas pessoas, é meu tipo de leitura. É extremamente forte, com um roteiro coeso, uma estrutura simples e eficiente e um desenho que faz o leitor sentir a tristeza daquele universo. Umas das duas HQs que me fez chorar.

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  3. Mafalda, Calvin & Haroldo, Love & Rockets eu conheço um pouco e acho maravilhosos.
    The Walking Dead estou baixando e quando tiver tempo vou ler com afinco.
    Tenente Blueberry eu não conheço, mas pelo gosto do Fábio pra HQs e outras formas de arte, deve ser legal, mas teria que ler pra ver e tirar minhas impressões.
    Não gosto muito de escolher obras preferidas, mas Calvin & Haroldo e Love & Rockets se destacam pela genialidade com simplicidade, lidarem com o cotidiano. De certa forma, uma boa estória que apela para o elemento fantástico o tempo todo, muitas vezes pode se tornar dependente deste elemento, mas uma boa estória escrita com elementos sutis do cotidiano, baseada em sentimentos humanos, conflitos, amizades, etc, bem... Aí ultrapassa todos os níveis, em qualquer mídia.
    Um bom guia para o site.

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  4. Oi Jacques! Estou veno os artigos que recomendou! E espero poder contar cfom sua presença mais vezes no meu blog! Ah os cosplayers são inofensivos, não precisa temê-los rs. Eu conheci as tirinhas da Mafalda na época de escola e são realmente inteligentes!

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  5. Eu curtia muito Mafalda, mas só conseguia ler na Zero Hora, há muio tempo, assim como Calvin e Haroldo, que, aliás, pra mim, é um dos mais bem feitos quadrinhos para todas as idades.
    Na minha infância, além desses dois, ainda marcaram muito Snoopy, Recruta Zero e Turma da Mônica. Não posso negar, apesar de hoje em dia achar injusto o que o Maurício de souza faz com os artistas, que Mônica marcou muito minha infância.
    Na adolescência eu tive muito contato com aquela revista Heavy Metal, que inha bastante trabalho do Manara e do Moebius, dentre outros. Tenho várias Heavy Metal ainda hoje.
    Belo guia esse, hein!

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  6. Ah, teu post tem 2 Easter Eggs: onde diz "Meu pai, fã de faroeste", tem um link pra França e onde diz "como qualquer clássico" tem um link pra Itália... hehehe

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  7. Mafalda é bastante vinculada à situação política argentina e mundial, Jacques, mas (pelo menos na minha ótica) não é datada, já que as coisas que ela falava eram universais, falta de liberdade, pressões da vida adulta, guerras, ineficiência da ONU, etc.
    Ou vai ver, é o mundo que não mudou tanto assim nestes 40 anos.

    Blueberry e principalmente, Love & Rockets, é obrigatório.
    Corre pros scans, seu maluco!

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  8. Snoopy é outro que vai entrar nas próximas edições do guia; Heavy Metal marcou toda uma geração, embora, hã, bem, por hã... outros motivos.
    Época negra. Aaaaf.

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  9. [...] minha (e de vocês) que a hq The Walking Dead, da Image Comics, escrita e criada por Robert Kirkman e desenhada (em preto e branco, o que aumenta [...]

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  10. [...] http://fantasticocenario.com.br/2011/07/21/pequeno-guiazinho-de-quadrinhos-fantastico-cenario-parte-... [...]

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