quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Pequeno Guiazinho dos Quadrinhos Fantástico Cenário (parte 11)

51. Hellblazer (fase Jamie Delano/Garth Ennis)


Um personagem que surgiu como coadjuvante no gibi Monstro do Pântano, na fase Alan Moore, simplesmente porque o desenhista queria desenhar algum personagem "parecido com o Sting".
Moore desenvolveu um personagem que era um misto de mago e picareta profissional, que anda sempre na fronteira entre as boas intenções e o benefício próprio. Um mentiroso profissional, cínico e carismático que acabou se tornando um dos marcos dos quadrinhos (e porque não dizer, literatura) de horror dos anos 80 e 90.
Com a resposta positiva dos leitores, não tardou muito ao inglês John Constantine ganhar revista própria, que aliás, foi muito bem servida de roteiristas ao longo de quase 25 anos de publicação.
Por suas fileiras passaram Jamie Delano, Grant Morrisson, Brian Azzarello, Peter Milligan, Paul Jenkis, Warren Ellis, Garth Ennis e muitos outros. Um autêntico painel do que houve de melhor no mainstrean americano neste período de tempo.
Para efeitos de objetividade, vamos pegar aqui apenas duas fases, a primeira, do inglês Jamie Delano e a do escocês Garth Ennis.

A Delano coube a missão de povoar a vida daquele simples coadjuvante, construir o universo onde suas histórias iriam se passar, assim, ele o inseriu em Londres, deu uma família, amigos, o inseparável (ou nem tanto) taxista Chas e, claro, os bons e velhos adversários.
Estas histórias saíram no Brasil na revista Monstro do Pântano da Editora Abril e agora estão sendo republicadas na coletânea Hellblazer, da Panini, onde funcionam bem melhor, sem a competição direta das histórias de Moore na mesma edição.
Um tanto despretenciosas, cada história nesta fase é bem amarrada, relacionando o sobrenatural com a situação política da Inglaterra e o cotidiano do mago inglês.
O que parecia bom na época, é ótimo hoje em dia, com destaque para o espetacular arco sobre o espírito da fome.

Já Ennis, como bom irlandês, introduziu quilômetros de questões religiosas na história, sempre com sua abordagem no mínimo... Singular, que deve ter arrepiado os cabelos da Igreja.
À sua maneira, a passagem de Ennis pelo título é uma celebração à vida, misturando ameaças sobrenaturais, bebedeiras, um espetacular arco onde o personagem descobre estar com câncer, um tanto de humor, emoção, horror, lágrimas e Ennis inserindo de maneira muito certeira, romantismo indisfarçado no mundano.
No fundo, uma ode de exaltação ao amor, às amizades e aos pequenos momentos que fazem a vida valer a pena, disfarçado de melhor gibi de horror dos anos 90.

52. Steve Canyon


Um dos últimos representantes da era de ouro dos quadrinhos, nos anos 50, Milton Caniff descontente por não ser dono de sua tira, Terry e os Piratas, resolveu dar as costas à estabilidade financeira que ela proporcionava e se arriscar em uma criação onde finalmente, os royalties seriam inteiramente dele: Steve Canyon.

Steve Canyon narra as aventuras de um ex-aviador da Guerra da Coréia, se adaptando ao retorno para casa. Se não repetiu o mesmo sucesso estrondoso de Terry, pelo menos Canyon foi um grande avanço em termos artísticos e estilísticos, com uma narrativa fluída, mostra a maturidade de Caniff como artista, misturando um elenco carismático, situações que fogem do óbvio, histórias gostosas de ler como um bom filme na TV.
Tudo isso aliado ao charme de uma época que evidentemente chegava ao fim.

Como se não bastasse, o traço de Caniff é ótimo, vendo a história é fácil perceber como ele influenciou muitos outros autores posteriores, entre eles, John Romita.

53. Torpedo

Satírica, mordaz, amoral, emocionante.
Torpedo, da dupla dinâmica Sanchez Abuli e Trillo Bernet, surgiu durante o boom dos quadrinhos espanhóis dos anos 80, e narra o cotidiano do gângster Luca Torelli, um dos personagens mais carismáticos das HQs.

Cada história tem 8 páginas e isso é mais do que suficiente para mergulharmos na Chicago de 1936, em histórias onde o sexo e a violência correm soltos, porém, nunca de maneira gratuita e frequentemente engraçadíssima.
Os primeiros episódios foram desenhados pela lenda Alex Toth, que se arrepiou com a amoralidade extrema dos personagens e acabou capitulando, sorte a nossa, seu traço limpo e elegante, embora espetacular, dificilmente combinaria com o clima sórdido das histórias.

Já saiu na Espanha a coleção completa em 5 volumes, fica a esperança que este material um dia dê as caras por aqui.

54. Lourenço Mutarelli



Lourenço é o nosso Franz Kafka. Inegável. É impossível não reagir às suas histórias, somos obrigados a amar ou odiar (ou frequentemente os dois) o que ele faz, só é impossível ser indiferente.
Suas histórias parecem pesadelos, delírios químicos, mexem profundamente, de maneira que não conseguimos entender muito bem.

Um autor tão singular só poderia mesmo ficar no gueto dos quadrinhos por quase 15 anos, até achar seu lugar ao sol graças à persistência e talento.
E então virar as costas para este mesmo meio, indo parar no cinema, na literatura, no teatro, onde acabou sendo recebido de braços abertos.
Pois bem, azar dos quadrinhos.

55. MAD de Harvey Kurtzman



MAD fez parte da nossa infância. Isso todo mundo sabe.
O que todo mundo NÃO sabe, é que em seus anos iniciais, ela era bem diferente: menor, colorida, com histórias em quadrinhos completas e possuía um humor iconoclasta e nonsense, demolindo de maneira nunca vista qualquer coisa que caísse em suas garras, anos antes do Monty Python aprontar das suas nas TVs inglesas dos anos 60.

Esse humor inconcebível para o pacato ano de 1952, e corrosivo até a veia, era cortesia de Harvey Kurtzman, um dos maiores nomes dos quadrinhos.
Kurtzman tinha a incrível habilidade de espremer piadas em cada canto, de surpreender sempre, de ser politicamente incorretíssimo e subversivo em uma época em que Joseph MaCarthy caçava comunistas embaixo da cama.
E tudo isto na maior desfaçatez e cara-de-pau.

Kurtzman foi tão longe em seu humor que a própria politicamente incorretíssimo E.C. Comics não viu outra saída senão demiti-lo. Assim sendo, ele teve que se contentar em fazer fortuna trabalhando para revista Playboy e virar nome de um dos prêmios mais prestigiados dos quadrinhos, o Harvey Awards.
Monty Python, Mel Brooks, Jim Abrahans, todos, em algum grau, tem que acender uma vela a ele.
E tenho dito.

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