segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Pequeno Guiazinho dos Quadrinhos Fantástico Cenário (parte 10)

46. Ultralafa









Mais um da nova leva do humor nacional,

Daniel Lafayette faz rir do absurdo, com toneladas de citações à cultura pop.
Reinventando velhas fórmulas, usando e abusando do surrealismo, da licença poética, ler seus cartuns parece aquelas piadas que surgem espontaneamente em conversas em mesas de amigos.
Um cartunista a ser descoberto.

47. Watchmen


Frequentemente apontada como a melhor história em quadrinhos de todos os tempos, este custou a entrar aqui justamente por que está em todas as listas, preferi priorizar os títulos menos badalados.
Mas, bem, aqui está ele agora.

Filho direto dos anos 80, pesado, sufocante, Watchmen trouxe um novo ar às histórias de super-heróis e aos quadrinhos como um todo, com sua complexidade literária, suas brincadeiras sutis e metalinguísticas com os cânones dos quadrinhos.
Hoje até acho questionável este tipo de abordagem, me parece mais ou menos que nem querer colocar sexo nos desenhos da Disney ou nos musicais da Metro. Quer dizer... Será que os quadrinhos de super-heróis realmente precisam disto? Só podem funcionar quando aplicadas doses cavalares de nilismo? Mas não é o próprio escapismo do gênero o seu maior encanto? Enfim...

A própria ideia central de Watchmen, heróis no mundo real, nem mesmo é assim tão nova, sendo utilizada com muito mais ousadia na obra anterior de Moore, Miracleman.
Pessoalmente, não considero Watchmen a melhor história de todos os tempos, nem mesmo a melhor de Moore (acho Monstro do Pântano, Miracleman e V de Vingança melhores, por exemplo), mas, inegavelmente, uma grande história, repleta de grandes momentos e representa, para o bem ou para o mal, um ponto de virada irreversível para os quadrinhos.
E, claro, é uma leitura obrigatória.
Consegui minar seu entusiasmo? Ótimo, leia e se divirta.

48. O Edifício




O Edifício foi meu primeiro contato com o trabalho de Eisner, saiu em formato luxuoso, com um preço absurdo para minha mesada infantil.
E óbvio que eu nem imaginava quem diabos era Will Eisner, Spirit, ou qualquer outra coisa do gênero, o que me lembro era que os anúncios sobre a revista davam um tremendo peso ao nome do autor, coisa que não era comum na época.
Até hoje não sei bem porque, mas juntei dinheiro e comprei.

E vamos ler a história, era preto e branco, já torci o nariz, aliás, nem preto exatamente, era mais um sépia e branco. Esquisito.
A história era uma crônica sobre quatro integrantes de um edifício, sobre as escolhas que eles fazem na vida, sobre o ordinário de seu cotidiano e era muita coisa para minha cabeça de 9 anos, doutrinada pelos heróis cósmicos de Lee e Kirby. Achei chato, me lembro que jurei que nunca mais cairia em uma dessas de novo. Will Eisner? Nunca mais.
Pra ver como são as coisas...

Anos depois, fazendo uma limpa e vendo quais revistas ficariam ou não, acho o álbum no fundo de uma pilha, bastante maltratado, é verdade. Não me lembrava quase nada da história, acabei relendo para decidir se ele ia ou ficava.
Foi uma redescoberta.

Como disse antes, O Edifício acompanha a vida de quatro moradores e como suas vidas se cruzam, é uma crônica sobre a passagem do tempo, sobre a vida ordinária, sobre como tudo passa e como influenciamos os lugares onde moramos e vice-versa.
É um trabalho de maturidade de Eisner. Às vezes sentimental, com um onipresente senso outonal, é daquelas revistas para ser lida deitado nas cobertas, em um domingo chuvoso.
E um álbum que está comigo há 22 anos.

49. O Cavaleiro das Trevas



Até agora, neste pequeno guia, Frank Miller apareceu pelo menos 5 vezes, não é para menos, o que dá uma ideia da qualidade dos primeiros trabalhos deste autor.
Se eu fosse fazer uma lista dos piores quadrinhos de todos os tempos ele TAMBÉM estaria presente o mesmo número de vezes. Ecletismo é isso.

Tal e qual Watchmen, não falei de O Cavaleiro das Trevas, porque ele costuma liderar todas as listas dos melhores de todos os tempos, mas, enfim, chegou a hora dele também dar as caras por aqui.
A história é um reflexo perfeito da época em que foi feita: anos 80, mostrando a paranóia urbana, a explosão da criminalidade, o crack nas ruas, a quebra econômica, a desesperança política e o fim do sonho americano, com seu Batman versão Taxi Driver tão casca-grossa quanto os criminosos que ele combate, em um clima sufocante e desesperançado. Um mundo que claramente caminha para seu final.
Depois desta história, os quadrinhos americanos nunca mais foram os mesmos. Clichê, falar, mas plenamente verdadeiro neste caso.

Faz anos que não releio, nas minhas lembranças, a história parecia um tanto pesada e datada demais. Comprei há pouco a versão absolute, de um amigo meu, entrou na fila para (re)leitura.
Quem sabe - lendo hoje- não tenho uma nova surpresa?


50. Ranxerox
Em 1977 aconteceu a explosão do punk rock, com a fúria apocalíptica dos Sex Pistols, os quadrinhos não ficaram muito atrás e logo, logo entraram na onda também, primeiro em fanzines, depois, abrindo espaço em publicações mais "oficiais".
Contudo, o grande representando do punk nos quadrinhos, se não literalmente, pelo menos em espírito, surgiu nos anos 80, na revista italiana Frigidaire, com textos de Stefanio Tamburini e arte espetacular de Tanino Liberatore.

A série, passada em um futuro(?) completamente distópico, narra as aventuras ultraviolentas de Ranxerox, um robô construído a partir de uma máquina de Xerox para ser escravo sexual da ninfeta Lubna, uma singela menininha de 12 anos viciada em heroína.
Como deu para ver, a história não fazia concessões a ninguém: mídia, show business, igreja, a séria destruía e afrontava tudo e todos, com fúria nilista promovida por Tamburini, alçada à fama pelos desenhos ultrarrealistas de Liberatore, um casamento perfeito, daqueles raramente vistos nos quadrinhos.
Em 1986, com a morte do roteirista, a série encontrou seu término.

Nas primeiras vezes que eu li achei uma seriezinha muito escrota, relendo o álbum anos depois, se percebe um um senso de humor negríssimo e sutil e a violência extremadaacaba sendo uma válvula de escape das pressões e violências do mundo real.
Alguns momentos me fizeram vibrar. De uma maneira meio culpada.



2 comentários:

  1. "Comprei há pouco a versão absolute, de um amigo meu"
    Em mais um excelente negócio do amigo lelé, do'ya punk? :P

    ResponderExcluir
  2. E repare que tive a finesse de nem citar o Piada Mortal capa dura recolorizado gratuito.

    ResponderExcluir

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...