terça-feira, 22 de novembro de 2011

Um Cineasta Paul na Mesa

Fazer filmes nos anos 80 não era bolinho.

Para poder ter qualquer tipo de orçamento, você tinha que tomar muitos esteróides, passar a vara em umas prostitutas, escovar os dentes com uísque e esquecer a noção em casa, porque cinema anos 80 era assim, mano, macho paca e qualquer coisa que lembrasse ironia, sutileza, reflexão e frescuras do gênero era prontamente convidada a se retirar, pois se ficasse muito tempo no recinto acabava metralhada entre os olhos.

Cinema anos 80 era assim cidadão. Não era bolinho não.

E mesmo nesta época tão pau na mesa, onde a testosterona jorrava da tela, surgiu um diretor que fez de tudo para deixar suas bolas (três ao todo) na Calçada da Fama, um diretor que fazia os filmes de Quentin Tarantino parecerem episódios do Capitão Planeta,  um diretor cujos filme têm apenas duas razões de existir: mostrar muita violência inconsequente e absolutamente sem noção, e muita putaria porque o homem está aí pra isso.

Foi a década onde surgiu o holandês Paul Verhoeven.

[caption id="attachment_5001" align="aligncenter" width="319" caption=""Eu já disse, ó, o buraco de bala é DESTE tamanho.""][/caption]

Para começar, não conheço nada da fase holandesa dele, onde ele trabalhava com menos dinheiro e mais liberdade. E visto o que ele fez na América, sinceramente, tenho até medo de conhecer.

O primeiro filme que vi dele foi Conquista Sangrenta, o que bastou para mudar todos os conceitos de história que eu tinha até então. A trama básica se resume ao kit básico de todo épico medieval, sobre a princesa sequestrada e o cavaleiro que vai salvá-la.

E as semelhanças acabam por aí.



Verhoeven coloca muita, mas muita sujeira nas vilas medievais, assim, meu amigo, você olha as cenas do filme e chega quase a imaginar o cheiro a esterco e falta de banho, isso somado a quilos de violência brutal, estupros e covardia. Um filme onde nada é idealizado e a mensagem do diretor estava bem clara: goste ou não, é isso o que penso do homem.

Em seguida e contra a própria vontade, ele foi capitanear o icônico Robocop - o Policial do Futuro, um dos maiores sucessos de 1987 e um filme que até hoje eu me pergunto como raios ele passava na Sessão da Tarde.



Revendo o filme no Canal Telecine, tem várias coisas que não tinha notado nas primeiras vezes que vi o filme, uma delas é o humor ácido onipresente no filme, quilômetros de crítica social colocada da maneira mais escancarada possível (em uma produção que veio de um grande estúdio) e a violência caótica e aleatória, tanto física, quanto moral e emocional, que chega às raias do chocante.

Como comentou um amigo meu, quando a gente é criança parece que filtramos certas coisas, e nada fica tão brutal.

E então chega o terceiro trabalho estadunidense do nosso amiguinho holandês, o Vingador do Futuro, baseado em um conto de Phillip K. Dick.

[caption id="attachment_5087" align="aligncenter" width="450" caption="Pode parecer incrível, mas a gente achava esse efeito o máximo na época."][/caption]

Este merece uma abordagem à parte: com seus jogos mentais, clima de paranóia e constantes dúvidas sobre o que é a realidade, a ficção poderia ser um veículo bem interessante para a escalação original, o diretor David Cronenberg e o ator Willian Hurt.

Mas aí Schwazzenegger se interessou pelo projeto e fodeu tudo.

Em primeiro lugar, se turbinou a ação do filme, em segundo lugar, Schwarza, muito impressionado com Robocop convidou Verhoeven para assumir a cadeira de direção e mais uma vez bater com o pau na mesa.

Vamos colocar a coisa assim: você sabe que está assistindo uma ficção de Paul Verhoeven quando lá pelas tantas aparece uma prostituta com três tetas.



Claro que em termos de sexo isso não se compara com seu projeto seguinte, Instinto Selvagem, com direito à Sharon Stone mostrando a república tcheca em pleno cinema, cenas de sexo quase explícitas e nosso bom holandês defecando e andando para tudo isso.

Se a liga dos evangélicos se incomodou, bem, não vejam o filme.



Já em 1996, bom, vamos dizer que ele foi longe demais com o abacaxi Showgirls, que nada mais é que uma pornochanchada hardcore do começo ao fim.

De legal só o fato que o filme recebeu 12 indicações ao Framboesa de Ouro e o diretor foi pessoalmente receber. Balls, mano.

O grande lance legal é que depois deste mico ambulante, ele resolveu voltar à ficção científica, com um filme tão ou mais sem noção e espetacular quanto Robocop, o épico trasheira Tropas Estelares.

 



 

Tropas Estelares é um daqueles filmes que fazem nos perguntar, roteiro pra que?

Vamos à história: insetos gigantes atacam a Terra, a Terra reage e... Bem, é isso. Acrescido de efeitos ótimos, muito humor negro, tetas à mostra e claro, violência.

Que outro filme você veria um caríssimo efeito CGI de um alien retalhando uma vaca? Só em um filme de Verhoeven, é óbvio!

 



 

Depois disso, ele fez o fraquinho Homem sem Sombra, onde, como bom filme de Verhoeven, o cientista louco quando fica invisível em vez de dominar o mundo, resolve sair pirocando tudo que é mulher por aí.

Por fim, o último filme que vi do nosso amiguinho holandês, foi o filme holandês A Espiã.

Que tem uma ótima trama, ótimo elenco e violência e sexo de menos.

Ô Verhoeven, como é que tu me faz uma dessas?

10 comentários:

  1. Muito obrigado Ochôa!

    Fazia muito tempo que eu queria descobrir o nome do Conquista Sangrenta, sempre lembrava do filme, mas não do título.

    Agora vou revê-lo.

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  2. Eu lembro que o primeiro filme que me fez nunca mais confiar em corporações foi Robocop, Ochôa.
    Conquista Sangrenta é muito bom, acabando com a romantização besta da Idade Média.
    E Tropas Estelares é tão trash que os atores tomaram chá de sumiço.
    Um diretor que eu gostava e desapareceu é Russel Mulcahy (Higlander, O Sombra), que a última vez que vi tinha feito Escorpião Rei 2.
    Arrgh...
    Ótimo post, Ochôa.

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  3. Li em algum lugar que Verhoeven quase chegou mais cedo em Hollywood para dirigir o Retorno de Jedi depois que os produtores viram Soldado de Orange. O problema é que também viram Spetters, um filme que deixaria Catherine Trammell ruborizada.
    Da fase holandesa já vi Louca Paixão (Turks Fruit), um ótimo drama romântico com as marcas registradas do diretor.

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  4. Esses dias comprei o Conquista Sangrenta por lembrar exatamente do fato de que não romantiza em nada a Idade Média, mostrando aquele mundinho cínico e cruel de nossos queridos ancestrais (não somente se resume a Idade Média, mas o filme trata do período). Viva Verhoeven"

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  5. Boa! Ótima seleção de filmes pra uma mostra também... Aliás... Vamos rediscutir aquela ideia?

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  6. Só pra ter uma idéia eu nem sabia que existia um Escorpião Rei 2, Jacques.
    Comprei dia destes o filme do Sombra, sabe que é legal de ver até hoje?

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  7. Se tem uma coisa que eu NÃO imagino é um Star Wars nas mãos do Verhoeven.
    Ou até imagino. Tropas Estelares.

    Quando é que vamos ter outro post teu, cidadão?

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  8. Vamos sim, temos até data: sexta. Recebeu o e-mail?

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  9. Vi agora. Respondido. Vamos por os Pauls na mesa.

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  10. Cara, não recebi o e-mail, tu vai ir, né?

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