terça-feira, 18 de outubro de 2011

O Excalibur de Chris Claremont e Alan Davis



Bem antes de Grant Morrison colocar o pau da barraca dentro de um balde e dar uma bica em ambos com sua destrambelhada e surreal Patrulha do Destino, Chris Claremont e Alan Davis já haviam criado uma hq onde os super-heróis fugiam de uma situação absurda apenas para cair em outra mais absurda ainda.

Quer dizer, muito mais absurda do que morrer em meses intercalados.

O Excalibur original era formado por Brian Bradock (Capitão Britânia), sua namorada transmorfa Meggan, Kurt Wagner (Noturno), Kitty Pride (Lince Negra) e Fênix (Rachel Summers), que resolveram criar o grupo para substituir os X-Men, que (novamente) haviam sido dados como mortos na saga A Queda dos Mutantes (Superalmanaque Marvel 5, onde se sacrificaram para fechar um portal místico (criado por Forge) e assim banirem o megafodástico Adversário).



As viagens do grupo eram possíveis graças ao robô Microportal, que devorava material inorgânico e absorvia o poder da Fênix para abrir transportais aleatórios pelo Multiverso Marvel afora.

Estas viagens deram o tom surreal à série, pois o grupo se encontrava com imaginativas versões alternativas ou até mesmo malignas de si mesmo (como o Excalibur nazista) e versões do planeta Terra em que a espécie dominante não era a humana.

Também ocorria do farol que servia de base ao grupo ser um tipo de nexo entre as realidades (como a Casa Livre, na saga O Fim do Mundo, de Sandman) criado por Merlin (que deu ao Capitão Britânia seus poderes e manipulou o Excalibur para que eles aprendessem a usar seus poderes ao máximo para enfrentarem o vilão Necrom, que almejava tornar-se hospedeiro da entidade Fênix, roubando-a de Rachel Summers).

Claremont aproveitou nesta hq muitos personagens criados por Alan Moore (e Alan Davis) na fase em que ele roteirizava Brian Bradock (que a Marvel surrupiou dele, o que deu início ao seu ódio imortal e intransferível pela editora), como a Tropa dos Capitães Britânia (havia um para cada Terra, sendo que a do Universo Marvel “normal” era a 616), Dispersora (que passou a integrar a Technet) e Opal Luna Saturnine (ou Sat-Yr-9, versão alternativa maligna da antiga namorada do Capitão Britânia Courtney Ross, da Terra 794, que assassinou Courtney e assumiu sua identidade).

[caption id="attachment_4484" align="alignleft" width="191" caption="Conan? John Carter? Quase isso..."][/caption]

Como todo grupo que se preze, este era formado por personagens de personalidades contrastantes: o Capitão Britânia (assim como a maioria dos personagens que atuam sob a alcunha de “Capitão” e, sendo um bom riquinho inglês), tinha a personalidade de um pote de geléia (e conseguiu ficar ainda pior, quando na fase de Scot Lobdel, ficou cabeludo e passou a se chamar “Britânico”); Noturno era de longe o mais divertido, sendo idealizado mais como um duende ou demônio do que um mutante e, como o grupo perambulava por lugares bizarros, Kurt não precisava usar o indutor de imagens para parecer normal, o que o deixava mais solto e engraçado (em diversas ocasiões, ele admite imitar Errol Flyn, seu ídolo).

Lince Negra alternava bom humor com tristeza, já que, devido a ferimentos sofridos anteriormente na saga Massacre de Mutantes (X-Men em formatinho 31 a 34), seu estado físico normal era intangível, e ela tinha de se concentrar para ficar sólida; já Fênix meio que antecipou a choradeira sem fim dos anos 90 pois, como vinha de um futuro alternativo que não mais existia, ela nunca nasceria nesta época , o que a deixava mais pra baixo que corinthiano em final de Libertadores.

E a ingênua e deslocada Meggan ficou conhecida como uma das personagens mais mal aproveitadas que já existiram, pois possuía um poder mega apelão e não o usava (ou usava muito mal), já que podia se transformar em qualquer ser do Universo Marvel, COM os poderes incluídos.

Quer dizer que bastava ela se transformar no Surfista Prateado e derrotar a maioria de seus inimigos na moleza, mas ela simplesmente não fazia isso, com certeza para não tirar a graça das histórias.

A proposta de Chris Claremont para este grupo foi a diversão em primeiro lugar; nada da manjada fórmula “odiados e temidos por um  mundo que não os compreende”, que, apesar de fazer com que os mutantes alcançassem sucesso, já encheu o saco há tempos.

[caption id="attachment_4493" align="alignright" width="160" caption="Rachel Summers"][/caption]

O que ocorria aqui era muito mais simples e direto, o grupo viajava a uma determinada Terra, arranjava uma encrenca por algum motivo, se safava, lambia as feridas e debandava para a próxima.

A imaginação sem freios de Claremont (que, aliada ao traço de John Byrne, criou uma das fases mais clássicas e revolucionárias da história dos X-Men) e os traços limpos e elegantes de Davis (que já foi chamado de “o segredo mais bem guardado da Marvel” e assumiu o argumento do Excalibur tempos depois) fizeram desta uma divertidíssima, leve e saborosa de se ler.

O nome do grupo se originou do fato de a espada Excalibur representar a luz em um mundo de ignorância, que era o que pretendiam os integrantes do grupo ao substituírem os X-Men.

E este grupo conseguiu realizar seu intento, ao jogar uma luz no entediante mundo das hqs de super-heróis.

 

10 comentários:

  1. Acho que tua definição final, fase divertidíssima, leve e saborosa de se ler é perfeita para Excalibur, como também para a maioria dos bons HQs de super heróis. Acho que isso se deve ao fato de muitos escritores ruins ou mesmo bons intencionarem dramatizações exageradas ao tempo todo ou um caráter épico para tudo, tentando aquela fórmula Alan More, que só dá certo de vez em quando e também quando efetuado por escritores diferenciados como nosso amigo inglês. Acho que muitos escritores não reconhecem o óbvio, que o "feijão com arroz" também dá ótimas aventuras.
    Buenas, Excalibur é destes casos. Me divertia muito com aqueles cachorros dimensionais do Mundo do Mojo e afins.

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  2. Os cachorros do Mojo eram os Warwolves, Marco.
    Acho que o grande problema das hqs de heróis é que muitos roteiristas estendem as histórias o máximo que dá, tipo novela da Record, e isso acaba cansando o leitor.
    Pra mim tem de se ter uma ideia central e pronto, como Superman All Star, onde ele está morrendo e quer fazer o máximo possível em pouco tempo e só.
    Quando se coloca muita coisa junta, aí vira bagunça, daí mudam de escritor e segue o baile.
    Valeu.

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  3. Sm sim. Certamente que estender as histórias ao máximo é um fator.

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  4. Dentro deste clima uma das coisas mais legais que eu já li foi o Quarteto do Mark Waid.
    Mas estes títulos não vendem tanto, e uma grande parcela de fãs só querem saber de megassaga, megassaga, megassaga...

    Sabe que no geral nem culpo tanto os roteiristas, eles são operários de um mercado e tem que encarar tabelas de vendas sempre desesperadoras.

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  5. Dessa fase do Quarteto eu só li a saga especial Ações Autoritárias, Ochôa, e achei bem interessante.
    E acho que só os leitores mais novos curtem as infindáveis megassagas, já que os mais maduros enchem o saco.
    E vida de roteirista não deve ser nada fácil mesmo.

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  6. Nem um pouco. A história que segue depois, onde eles se encontram cara a cara com Deus, é para mim um dos momentos mais tocantes dos quadrinhos.
    E acho que é a única vez que a inevitável morte/retorno de um personagem teve sentido e gerou uma história espetacular.

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  7. Essa história eu não li, Ochôa.
    Nem sabia que Deus já tinha aparecido no Universo Marvel.
    Valeu a dica.
    E tu vai seguir com o Guiazinho dos Quadrinhos?
    Tem algumas hqs muito boas que ficaram de fora como Planetary e Transmetropolitan.

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  8. Spoiler




    Apareceu. E ele é Jack Kirby.
    Digo, LITERALMENTE Jack Kirby.

    Vou seguir sim, tem muita, mas muita coisa que ficou de fora, incluindo Planetary, Authority, Torpedo...

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  9. Eu sabia que Jack Kirby era chamado de "Rei", mas Deus é novidade, Ochôa.
    E a hq Torpedo eu nunca ouvi falar...
    Que coisa...

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  10. Ele merece. A história saiu no Universo Marvel 1 a 3, é simplesmente espetacular, cata que vale a pena.

    Torpedo é uma história de gângster , do Abuli & Bernet se não me engano, saiu pela Animal. Aventura & Ficção, Canalha e mais um monte de revistas, é ótimo a abusivamente amoral.

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