domingo, 11 de setembro de 2011

Super sentidos animais

Toda primavera as flores de radiche aqui de casa florescem, são visitadas por abelhas atarefadas e o pessoal aqui de casa tromba seguidamente com elas com a sutileza de um rinoceronte bêbado.

E, apesar disso, nenhum de nós jamais foi ferroado.

Porque isso acontece? Simples: as abelhas atacam seus oponentes levando em conta a elevação em seu nível de adrenalina (o “cheiro do medo”, por assim dizer), interpretando isso como se fosse uma atitude agressiva.

Como ninguém aqui sente medo delas, elas nos deixam em paz.

E, para as abelhas, não é vantajoso perder seu ferrão à toa, quando poderiam fazer isso ao defenderem sua colmeia de algum invasor.

Este é apenas um singelo exemplo de como os sentidos dos animais diferem dos nossos.



Golfinhos se utilizam da emissão de estalidos sonoros (até 700 deles por segundo) e leitura de seu retorno (a chamada ecolocalização) para encontrar cardumes de peixes e os caçarem, fazendo com que suas vibrações sonoras de alta frequência reverberem na bexiga natatória de suas presas, o que as atordoa, tornando-as fáceis de capturar.

Morcegos também se utilizam do som para se movimentarem no escuro e avaliarem a posição e tamanho de suas presas, valendo-se do Efeito Dopler (elevação da intensidade do som percebido por um alvo conforme a fonte emissora de som se aproxima dele) para isso.

Algumas mariposas desenvolveram defesas contra isso, produzindo um forte estalo no momento em que o morcego vai apanhá-la, o que o assusta, ou fugindo para um fundo sólido, como o chão ou um tronco de árvore, o que incapacita o sonar do morcego.

A suindara (também conhecida por coruja de igreja, pelo fato de construírem seus ninhos em torres de igrejas) é uma dentre muitas espécies de corujas que possuem a face em forma de coração (semelhante a uma antena parabólica), o que faz com que o som captado por ela seja afunilado para seus ouvidos, que ficam em diferentes níveis (o que a ajuda a determinar a posição exata da presa, como um rato escondido sob a neve, fora do campo de visão de qualquer predador que se valha apenas da visão para caçá-lo).

As raposas do deserto utilizam suas enormes orelhas (que também servem para afastar o sangue do corpo, resfriando-o como um radiador de carro; quanto mais frio o ambiente, menores são as orelhas destes animais) para caçar cupins e besouros, apontando-as para um local específico para, desta forma, surpreenderem suas presas.

[caption id="attachment_3732" align="alignleft" width="240" caption="Feneco: orelhas tão grandes quanto úteis"][/caption]

Também desenvolvida para a caça, a visão de algumas corujas (que possuem os dois olhos na frente da cabeça, a chamada “visão binocular”) tem sua eficácia aumentada à noite pelo fato de eles serem grandes, o que eleva a quantidade de luz percebida por eles (é por esse motivo que as corujas são um símbolo de conhecimento (como a coruja de Atena), pelo fato de enxergarem no “escuro”, que é um conhecido sinônimo de ignorância).

Como essa forma de visão (utilizada para avaliar tamanho e distância da presa) estreita seu campo de percepção, elas precisam compensá-lo girando sua cabeça até ¾ de círculo.

Gaviões e outras aves de rapina podem enxergar no espectro ultravioleta, e usam isso para caçar roedores pela trilha de urina deixada por eles, que, para as aves, parece uma trilha luminosa.

Andorinhas e demais aves migratórias enxergam o magnetismo terrestre na forma de um ponto luminoso no horizonte que lhes indica onde fica o norte geográfico, desta forma, elas conseguem retornar ao local onde fica seu ninho, mesmo se vierem a ser vendadas e transportadas em uma caixa até um local situado a milhares de quilômetros de distância dali (sim, tem gente que faz isso...).

Tubarões, por sua vez, conseguem detectar suas presas através do olfato e visão apurados e a bio-eletricidade (o que pode explicar o fato de eles atacarem barcos) produzida por estas, que é detectada por receptores em seus focinhos, denominadas Ampolas de Lorenzini.

Gatos e outros animais notívagos possuem uma camada de células foto-receptoras situada atrás do globo ocular (o tapete ou tapetum), que tem a função de aumentar a quantidade de luz absorvida pelo olho.

É por esse motivo que as pupilas dos olhos dos gatos ficam com uma espessura mínima se for projetada luz mais forte neles (ou durante o dia), para diminuir o excesso de luz absorvida.

Vem daí a crença que gatos enxergam fantasmas e seres invisíveis aos olhos humanos.

Eles também marcam seus donos através do cheiro, esfregando neles a secreção das glândulas de suas bochechas, criando assim um elo social (semelhante à cena da animação Como Treinar o seu Dragão, onde Banguela regurgita um pedaço de peixe recém devorado para que Soluço coma um pedaço), desta forma, eles não precisam perder tempo se assustando toda vez que uma pessoa “marcada” se aproximar.

Eles também podem dar uma de Garfield e se esfregarem no dono para secarem seus narizes úmidos. Ou pode ser apenas carinho, mesmo.

Vai saber.

Os bichanos ainda usam seus “bigodes” (chamados vibrissas) como um auxiliar tátil quando querem atravessar algum lugar apertado (eles tocam a abertura com ele, se os bigodes passam por ela, o restante do corpo também passa).

As mães morcego reconhecem seus filhotes (que vivem em cavernas superlotadas (aproximadamente 2000 por m2), pois existem poucas cavernas ambientalmente apropriadas para eles) graças ao cheiro específico de sua glândula sudorípara, o cheiro que ela deixou nele ao lambê-lo e som único produzido por ele.

Algumas cobras “enxergam” calor na ordem de 0, 001° C, o que é uma adaptação para caçar presas no escuro (cobrir-se de lama para evitar ser visto por esse tipo de caçador funcionou com o Schwarzeneger em O Predador, mas, na vida real, é impraticável).

[caption id="attachment_3735" align="alignright" width="220" caption="Fosseta loreal: melhor do muito óculos de visão noturna"][/caption]

Isso ocorre porque suas células sensíveis ao calor (presentes sem sua fosseta loreal, um orifício situado entre o olho e a narina destas cobras) enviam sinais à mesma parte do cérebro que os olhos.

Corvos marinhos possuem o cristalino de seus olhos macios, que sofre deformação embaixo d’água, o que permite ao animal ajustar sua visão ao meio aquático.

Por viverem exclusivamente neste meio, os peixes possuem o que nós humanos poderíamos chamar de “sexto sentido”, pois sua linha lateral (agrupamento de receptores de pressão situados ao longo do corpo) permite que eles sintam a aproximação de outros peixes sem sequer sentir seu cheiro ou ouvi-los, devido a mudanças de pressão causadas pela movimentação da água.

Enxergar calor, eletricidade, magnetismo, formar imagens através do som, conseguir ouvir um som baixo a uma distância considerável, reconhecer outro ser pelo seu cheiro e usar o corpo inteiro como um sensor de movimento podem parecer capacidades incríveis para nós humanos, mas elas não são nem melhores , nem piores do que nossas capacidades sensoriais.

São apenas diferentes.

10 comentários:

  1. Gostei dessa matéria Jacques, seria legal você escrever sobre os sentidos "secretos" humanos, como por exemplo as reações que o cérebro tem a feromônios que conscientemente nós não notamos que percebemos.

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  2. Pois é, Fábio, eu deixei os feromônios (seja em animais ou em humanos) de fora porque isso dá um texto próprio.
    Vou dar uma pesquisada e ver melhor.
    Valeu.

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  3. Muito legal mesmo.
    Nunca inventaram ninguém que sentisse aproximação por mudança na pressão do ar?
    Só uma idéia que me ocorreu...

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  4. Não lembro, Ochôa, mas acho que os super sentidos do Demolidor funcionam mais ou menos dessa forma.
    E ASSISTA COMO TREINAR O SEU DRAGÃO, MONSTRO!
    E TU TAMBÉM, DOMÊNICO!
    Sei que vocês estão aí.
    Posso ouvir suas respirações...

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  5. Legal, é verdade, nunca tinha pensando desta forma.
    Vou confessar uma coisa, muito, muito feia... Tenho preconceito com desenho animado.
    Não sei porque, não sei, não sei.

    Mas te garanto que o Domênico não vai gostar.

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  6. Puxa, quanta informação.
    Baita texto.
    Fantástico Cenário é cultura oras pombas.
    A única coisa que eu sabia é que a escuridão entre os gregos era chamada de Léthe (uma dessas qualidades personificadas), que deixava os homens na escuridão, como os morcegos, mas diferentemente deles, deixava os homens na ignorância, sendo o contraponto a ela, à luz, ou Alethéia, que para os gregos se tornou sinônimo de Verdade.
    Pois é, como sou ignorante sobre os bichos, só posso ajudar em informações sobre gregos antigos e outros e demais povinhos esquecidos, mas sobre gatos, só posso dizer que a minha tá sempre se "entatando" em lugares fechados. Acho que o bigode tá estragado.

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  7. Como assim vocês não têm medo de abelhas? Machões! Mais respeito com quem tem medo de abelhas, por favor.

    PS.: O feneco é um poquemon? Que fofo!

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  8. Não é que nós não tenhamos medo, Rafael, o que acontece é que nós simplesmente as ignoramos e elas fazem o mesmo.
    O feneco parece um Evee, realmente.

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  9. Uma deliciosa aula...amei! Por estas e outras que considero os animais criaturinhas preciosas que merecem todo o nosso amor e respeito.Abçs

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  10. Eu sabia que irias gostar, Soninha.
    Vou ver se escrevo mais sobre as particularidades inerentes aos animais, sejam eles amigos ou não.
    Abraço.

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