terça-feira, 26 de julho de 2011

Pequeno Guiazinho de Quadrinhos Fantástico Cenário (parte 02)

6. Luluzinha e Bolinha-



Outra HQ sempre saborosa de se ler e atemporal.

Novamente, sem fugir do velho esquema garotos X garotas, a série Luluzinha tem duas grandes vantagens que deixam as cópias e concorrências lá atrás:

a) crianças que se comportam como crianças, passando ás vezes longe do bom mocismo e do politicamente correto.

b) um timing cômico insuperável, não são muitas revistas que você consegue ler 40 anos depois de sua publicação e achar a mesma graça.

Humor universal é isso. Quem sabe, sabe.

 

7. Asterix - o Gaulês



Se tivesse que eleger um quadrinho que pode ser lido com prazer tanto para adultos como crianças, com certeza o eleito seria Asterix.

Com ritmo ágil (ainda mais contando que é uma história que surgiu em 1959), humor visual, doses cavalares de ação para as crianças e um humor sutil e perspicaz, nos diálogos, com referências e pequenas sátiras aos costumes do século XX, as aventuras do baixinho gaulês que combate os romanos ganharam o mundo.

Depois da morte de Goscinny, o roteirista, nos anos 70, o desenhista Uderzo assumiu os roteiros, mantendo a qualidade da série ao longo dos anos 80, porém, nos anos 90 em diante a qualidade começou a despencar, chegando a níveis constrangedores nos anos 2000.

Não que tenha abalado o sucesso do personagem. O que não deixa de ser assustador.

Quando eu era criança, era um dos meus preferidos, depois de adulto, foi um prazer reler e descobrir o humor que se escondia nas entrelinhas.

Só para constar, leiam até o 28º álbum, As 1001 Horas de Asterix. O que vem depois realmente não vale a pena.

 

8. Desvendando os Quadrinhos



O melhor estudo que qualquer mídia já teve e fundamental para qualquer pessoa que trabalhe com comunicação entender como funciona o processo de absorção de informação e a cultura em geral.

Em quase 200 páginas, Scott McCloud esmiúça como arte funciona, o que nos torna humanos, surgimento da comunicação, passando pelos mais diversos campos de conhecimento humano, com uma argumentação direta, acessível e sem nunca abdicar do bom-humor e insights absolutamente geniais, recheados de um grande humanismo nas entrelinhas da obra.

Fantástico e constantemente inspirador. Feito por uma das poucas pessoas com quem você adoraria passar uma tarde conversando.

O livro tem duas continuações, Reinventando os Quadrinhos e Desenhando Quadrinhos, espetaculares, mas a obra-prima definitiva é o primeiro livro.

 

9. Espada Selvagem de Conan



Por Crom.

Tinha tudo para dar errado.

Um personagem completamente esquecido, de sucesso bastante morno na literatura pulp dos anos 30. Um artista inglês mais desconhecido ainda para desenhar, um gênero, espada e feitiçaria, completamente irrelevante e um editor-roteirista nerd o suficiente para ser apaixonado pelo personagem e arriscar seu emprego publicando-o.

Teria tudo para dar errado, se não fosse um elemento: as tramas escritas por Robert Howard nos anos 30 eram realmente espetaculares e o roteirista Roy Thomas respeitou linha por linha o texto original.

Apesar de todas as características citadas acima, ou até mesmo por causa delas, a revista Conan, o Bárbaro foi um dos sucessos mais arrasadores dos quadrinhos dos anos 70.

Tanto sucesso levou a Marvel a se empolgar e lançar uma segunda revista do personagem, a icônica Espada Selvagem de Conan.

O gibi tinha um formato maior que a média, mais páginas, inteiramente em preto-e-branco, novamente com Thomas nos roteiros e agora, com desenhos espetaculares do astro da casa, John Buscema.

Espada Selvagem de Conan uniu tramas emocionantes, adultas, tensas e inesquecíveis, com um dos melhores momentos da ilustração em quadrinhos, nunca desrespeitando a inteligência do leitor. As primeiras 40 edições lançadas pela Abril estão entre as melhores coisas publicadas em nosso país e – como não podia deixar de ser- foi um sucesso de vendas sem precedentes, fazendo com que a editora lançasse mais SEIS revistas do personagem simultaneamente ao longo dos anos, além de uma reedição que durou até o número 30.

Como tudo que é bom dura pouco, em 1982 o personagem foi adaptado para o cinema, com Arnold Schwazenegger no papel principal, em um filme bom mas tremendamente equivocado, onde todas as subtramas, sutilezas políticas, intrigas de poder, inteligência e ambigüidade do personagem foram substituídas pela pancadaria solta de John Milius.

Até aí nada demais, se o sucesso do filme não começasse a influenciar a revista também.

Com o tempo Conan começou a se transformar em um brucutu esmaga monstro e come a mocinha no final, imbecilizando o público e dando final a um dos pontos mais altos dos quadrinhos dos anos 70 e meados dos 80.

Pena.

 

10. Pato Donald de Carl Barks e Don Rosa

 



Um dos mestres do ritmo e da narrativa, Barks pegou um personagem de pouca expressão da Disney e o transformou em um símbolo, deixando o pobre camundongo Mickey lá atrás em popularidade.

 

As explosões de fúrias, a rivalidade com o Silva, o eterno namoro com Margarida, Gastão o irritante pato mais sortudo do mundo, a eterna luta para vencer e encontrar seu lugar no sonho americano (e sempre fracassar) Barks transformou Donald em gente como a gente: falho, obstinado, otimista, iludido, levemente trapaceiro, irascível, à sua maneira, um anti-herói dos quadrinhos infantis, nos quais, com todos seus defeitos é impossível não torcer por ele, assim como é impossível não se ver um pouco nele.

 

Na metade da primeira década (de um total de 30 anos) com o personagem, Barks criou o Tio Patinhas, com os irmãos Metralhas, Patacôncio, Maga Patológica etc, etc, etc e então, as histórias que giravam em torno do cotidiano de Donald, ficaram maiores e passaram a ter doses cavalares de aventura e emoção, com expedições à lua, asteróides de ouro, harpias gregas, fazedores de terremotos, zumbis, povos quadrados e tudo que a prodigiosa imaginação do roteirista-desenhista poderia conceber.

O que não é pouco.

Esta fase foi uma das inspirações para Spielberg e seus Caçadores da Arca Perdida, sendo a “sequência da pedra rolante” retirada diretamente das aventuras de Donald.

 

Nos anos 80, o americano Keno Don Rosa resolveu simplesmente estabelecer uma cronologia para o personagem, esquecer tudo que as dezenas de outros roteiristas fizeram e afirmar com todas as letras: somente o que Carl Barks fez com ele é o que vale.

Rosa começou a amarrar todos os pontos das histórias, ampliou a mitologia do personagem e começou até mesmo a fazer continuações diretas das aventuras de Barks, o que seria uma tremenda heresia, se não fosse o fato do aluno ser tão bom (se não melhor, segundo alguns) que o mestre.

20 comentários:

  1. Buenas.
    Luluzinha e Bolinha são fenomenais. Nunca esqueço do Aranha, alter ego do Bolinha detetive com maçã na cabeça.
    Asterix nem preciso comentar, até porque tenho muita identidade com o tema, visto minha formação em história antiga, sem falar na veia cômica de primeira. Lembro de meu tempo de adolescência quando me dirigia até a biblioteca do Sesi pra ler os álbuns clássicos com capa dura. Acho que já reli os melhores umas mil vezes.
    O Conan de Howard, depois Roy Thomas e John Buscema é simplesmente meu personagem preferido dentre quadrinhos de fantasia e um dos favoritos entre todos. Nada do brucutu Heavy Metal dos anos 90 que infelizmente aparece nas mentes dos fanáticos atuais de plantão que muitas vezes desconhecem o personagem, mas o Conan original, esperto, ladino, líder de bandos ou salteador, com medo da morte, sem encarar estupidez ou monstros gigantescos quando desnecessário. Infelizmente mais um filme do personagem se anuncia e pelo trailer, parece tratar-se do Conan brucutu super invencível regado a estupidez rpgística de fantasia do tipo "cadê o dragão pra mim matar". Tomara que eu queime a língua.
    Quanto ao Pato Donald de Barks e Rosa, mais um lapso em minhas leituras de HQs (de muitos outros). Quanto tiver tempo quero baixar ou me lembrar de pedir emprestado ao Fábio, porque pelo que todo mundo com bom gosto e bom senso diz, é simplesmente fenomenal (sim, acredito em bom gosto).

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  2. O Aranha era espetacular, sempre com um único culpado em mente "seu pai, Lulu!" (e nunca errando).
    O Conan, pouca gente se lembra, mas nos medonhos anos 90 ele chegou a ter um desenho animado (!) e uma série de TV muito da picareta, pegando carona no sucesso do Hércules.
    Eu andei comprando as obras completas do Carl Barks, é obrigatório te passar.

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  3. Lí asterix depois de burro-velho. Acho que a mítica dele está muito ligada à "quão jovem você era quando leu ele pela primeira vez". quem eu conheço que leu quando era pequeno, acha o máximo. Quem leu depois de ler outras coisas, acha meia-boca. Eu me incluo nessa segunda categoria.

    Luluzinha e Pato Donald eu lia, mas... Bom, eu só lia. Achei uma edição da Luluzinha - que era da minha mãe - esses dias aqui em casa, e não consegui ler toda. Enfim... Gostos e gostos.

    Conan é bom. Inclusive quando é ruim. Ele tem muitas histórias "tosco mode on" que eu gosto de ler quando só quero olhar um bom desenho, ou esvaziar a cabeça. E as revistas lançadas pela Dark Horse - em que o filme certamente se inspira - são bem boas, na verdade. É um outro personagem, mas é mais semelhante ao Conan lá do começo de carreira. Tem monstros, mas bem poucos, histórias interessantes, bons inimigos... Eu gosto de Conan. Não sou um fã - porque acho que fanboyzisse emburece - mas Conan é meu personagem favorito de HQs, porque é bom até nas fases ruins. Só depende do que o leitor quer.

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  4. Quando aprendi a ler, loquei todos os livros do Astérix na biblioteca do colégio! Me orgulho em dizer que foram as primeiras coisas que li!

    E mais uma coisa, os patos de Barks de don Rosa são o que salvaram a disney no setor de quadrinhos!! (Dorfman e Mattelart que me desculpem hehe)

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  5. Li pouco de Luluzinha e vejo que fiz errado, já que se trata de humor de primeira.
    Sobre Asterix, eu concordo com o Domênico, acho que é mais leitura de descoberta, mesmo.
    O Conan de Roy Thomas e Cia. é insuperável; ele temia a magia, mas detonava os monstros e feiticeiros sem dó nem piedade (mesmo porque sua vida dependia disso).
    Pena que a qualidade não se estendeu aos demais autores (Conan Saga mesmo, era péssima).
    O Pato Donald de Carl Barks é genial, esta cena que tu postou é da ótima história dos ovos quadrados, que eu lembro de ler em 84.
    Em resumo, hqs que valem muito a pena.

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  6. Oi pessoal!
    Incrível essa seleção de HQs. No meu caso, sou publicitária, profissional de comunicação, e os HQs clássicos são excelentes para uma série de coisas que se aplica na comunicação. Desde despertar para ideias, como a ligação entre imagem-texto..., enfim, uma série de fundamentos. Li todos esses, mas faz tempo... o que mais me lembro é a Luluzinha, mas isso foi na infância; e o Asterix. Acho esse último, com algumas sacadas geniais, criticas sociais e tudo isso. Mas muita coisa na ironia e na sutilidade, por trás de um humor muito inteligente, que nem sempre parece dizer o que diz.
    Abração a todos.

    Ah! Coloquei o site de vocês na minha lista de leitura de blogs, lá no meu blog.

    Jacques, estava preocupada com teu sumiço, pensei 2 coisas:
    1. Tá doente
    2. Tá de férias
    Mas não contava com o teu:
    3 . Tô sem internet.
    O que significa que... é como se estivesse com o meu item 1 e o 2 juntos!
    Então, acho que acertei 100% rsrsrs
    Beijos

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  7. Domênico nasceu com 38 anos.
    Tchêêê, cada vez que eu vejo o trailer do Conan com o samoano tetudo, juro que parece que na próxima cena vai entrar o Kevin Sorbo correndo de camisa amarela.

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  8. bem legal o guia, todas as dicas são essenciais! sobre o asterix, realmente ele caiu depois da morte de um dos autores -e esses dias fiquei sabendo que vai ter um roteirista novo(?). e sobre o conan, acho que não idolatro o schwarzenegger no papel como muitos fazem justamente pelos motivos que você citou, apesar de gostar dos filmes.
    abraço!

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  9. São. Pô, Ana, fez eu me lembrar das coisas que lia na biblioteca do colégio, pilhas e pilhas de Coleção Vagalume.
    Hoje gosto muito do Bone, do Jeff Smith, tem um estilo muito próximo do trabalho do Barks e com a mesma qualidade.

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  10. Iiiisso mesmo, se bobear é da mesma edição que tenho em casa. Tinha a história de Quadradópolis e outra espetacular, do Corongo.
    Me lembro que achava ótima a sacada do morto-vivo Corongo passar 50 anos vagando pelo mundo para entregar o boneco vodu para o Tio Patinhas e no fim acaba entregando pro Donald por engano, porque ele é a cara do Patinhas quando jovem.
    E como estava morto, o Corongo não levou em consideração que o quaquilionário envelheceu e perdeu a aparência que tinha.

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  11. HUWEHWEUHEWUWEHEWUEHWUWEHWEUWEHUEWHWEUWEHWEUWEHUWEHWEUWEHWEUHWEUWEHWEUWEHUWEHWEUWEHWEUWEHUWEHWEUWEHWEUHWEUWEHWEUWEHWEUHWEUWEHWEUWEHWEUHUWEHWEUEWHWUWEHUWEHWEUWEHWEUWEHWEUHUWEUWEHWEUWEHUEWHWEUWEHWEUWEHUWEHWEUWEHWEUHWEUWEHWEUWEHUWEHWEUWEHWEUWEHUWEHWEUWEHWEUHWEUWEHWEUWEHWEUHWEUWEHWEUWEHWEUHUWEHWEUEWHWUWEHUWEHWEUWEHWEUWEHWEUHUWEUWEHWEUWEHUEWHWEUWEHWEUWEHUWEHWEUWEHWEUHWEUWEHWEUWEHUWEHWEUWEHWEUWEHUWEHWEUWEHWEUHWEUWEHWEUWEHWEUHWEUWEHWEUWEHWEUHUWEHWEUEWHWUWEHUWEHWEUWEHWEUWEHWEUHUWEUWEHWEUWEHUEWHWEUWEHWEUWEHUWEHWEUWEHWEUHWEUWEHWEUWEHUWEHWEUWEHWEUWEHUWEHWEUWEHWEUHWEUWEHWEUWEHWEUHWEUWEHWEUWEHWEUHUWEHWEUEWHWUWEHUWEHWEUWEHWEUWEHWEUHUWE

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  12. Como assim é bom até quando é ruim?

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  13. Pois é Vinícius, tem o novo Conan agora, mas parece que vai ser Conan para fã de Heavy Metal.
    Aqueles Conans originais dariam uma baita série da HBO.

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  14. Exatamente, Ochôa!
    A Edição de 50 anos do Pato Donald, que veio com uma máscara dele, uma reedição do Pato Donald número 1 e um álbum
    de figurinhas que, pra poder preencher, se tinha de comprar os outros gibis onde vinham as maledetas na primeira capa.
    Eu lembro da história do Corongo, ele era uma espécie de zumbi bobalhão, e o veneno do boneco dele tinha perdido o efeito há décadas.
    História ótima...

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  15. Isso mesmo, na coleção recente das obras completas do Carl Barks que a Abril lançou, eles tiraram "Corongo" e colocaram zumbi, mesmo.
    Censura da época?

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  16. Excelente seleção! Cresci lendo as aventuras da família Pato - notadamente o Pato Donald e Tio Patinhas - nos velhos almanaques com a obra monumental de Carl Barks. E nelas dei a volta ao mundo com o pato mais rico do mundo em busca de tesouros pelo Peru, Egito, Mesopotâmia e até na mitológica Atlântida. Essas histórias me levavam para a biblioteca, pois eu queria saber mais sobre esses lugares - e isso em um tempo em que as HQ´s eram mal vistas pelas escolas. ( hoje melhorou bastante graças, também, às adaptações de obras clássicas da literatura e ao aproveitamento de quadrinhos nos livros didáticos)

    E a Luluzinha é demais! Creio que o Fábio Ochôa resumiu muito bem o espírito da personagem: "crianças que se comportam como crianças, passando às vezes longe do bom mocismo e do politicamente correto." Por isso continua imbatível até hoje - ao menos para mim - pois resgata este sentimento infantil muitas vezes em falta atualmente. Muito bacana rever nas bancas a Revista da Luluzinha novamente, publicada pela Ediouro/Pixel. ( existe a Luluzinha Teen, folheei e não gostei)

    Astérix e Conan só fui descobrir mais tarde, já na adolescência. Nesta época, eu confesso, gostava mesmo era do Homem-Aranha rsrs Mas o Conan era realmente muito bom!

    Excelente seleção e texto! Parabéns!

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  17. Obrigado mesmo pelo comentário, Jaime, é daquele tipo que dá mais motivação de escrever.
    Quanto à Luluzinha e Bolinha da Ediouro, entraram automaticamente nas minhas compras mensais.

    Luluzinha teen, Mônica Teen, sendo bem sincero, folheei e não deu a menor vontade de ler.
    Pode ser preconceito, algum dia leio alguma, mas acho difícil agradar...

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  18. [...] máxima do escritor texano Robert Edward Howard, Conan da Ciméria apareceu pela primeira vez na revista pulp (livretos impressos em papel barato e [...]

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  19. [...] http://fantasticocenario.com.br/2011/07/26/pequeno-guiazinho-de-quadrinhos-fantastico-cenario-parte-... [...]

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