sábado, 23 de julho de 2011

Guerra dos Mundos: entre fatos e ficção

Impressionante o documentário que passei para meus alunos de 3º Ano do Ensino Médio esses dias.

Tratava-se da dramatização da apresentação de um dos programas da rádio CBS de 1938, quando Orson Welles e sua Companhia de Teatro interpretaram uma adaptação efetuada por Howard Koch (um dos autores de Casablanca), da obra "A Guerra dos Mundos" de H.G. Wells.



"H. G. Wells: escritor de A Guerra dos Mundos, obra que trata de uma invasão marciana à Terra, mais particularmente à Inglaterra".

 H.G. Wells: escritor de A Guerra dos Mundos, obra que trata de uma invasão marciana à Terra, mais particularmente à Inglaterra.

Acho que muita gente já conhece a repercussão da dramatização de Orson Welles. O que era para ser uma "pegadinha" de Halloween virou histeria coletiva, com pânico generalizado pelas ruas das grandes cidades norte-americanas (Nova York, principalmente), famílias se escondendo de marcianos verdes munidos de gases venenosos e construtos metálicos retrôs, além de bombeiros saindo pelas ruas e matas nativas, munidos de coragem, lanternas a pilha e extintores.

"Seriam os marcianos comunistas, nazistas, heróis ou vilões da Warner"?

 

O primeiro problema é que o texto de Koch adaptou o livro de H.G. Wells para o contexto dos EUA, situando o início da invasão em Nova Jersey. Além disso, Orson Welles exigiu que as inserções sobre os marcianos invasores fossem repentinas, tal como ocorria no noticiário sensacionalista da época. Para finalizar a coincidência de eventos que levaram a confusão generalizada, o programa de Welles tinha baixa audiência (2 milhões de indivíduos em média), muitas pessoas sintonizando a estação em meio a procura de algum outro programa alternativo, sem perceberem que o programa da CBS não passava de uma radionovela de ficção (sim, a emissora tinha avisado ao início da transmissão sobre isso).

"Orson Welles não imaginava que se tornaria famoso em um programa de rádio com baixa audiência até então".


De certa forma, os eventos também podem ser explicados pelo contexto histórico da época. O mundo passava por uma crise econômica grave (Crash da Bolsa de 1929) , o nazismo surgia na Europa com toda sua força, munido de intolerância, temor e ódio exacerbado ao estrangeiro (valendo para judeus, negros, latinos, orientais, mas não para marcianos ao que se sabe), doses extremas de paranoia coletiva e totalitarismo de Estado. Juntando tal contexto global com a Era de Ouro da Ficção Científica dos anos 1930 - 1950 (com ampla atenção do público para obras de autores do porte de Isaac Asimov, Robert A. Heinlein e Arthur C. Clarke, hoje clássicos), mais a inocência do publico ouvinte da época e a credulidade do mesmo para tudo o que era transmitido e divulgado nas rádios, tínhamos um ambiente propício para a histeria que se seguiu.

"Ss pessoas um dia acreditaram em naves gigantescas alienígenas invadindo à terra. Hoje em dia somente Tom Cruise e os adeptos da cientologia acreditam no Imperador Xenu."


O mais incrível de tudo é que após todas as desculpas publicas de Orson Welles e da CBS, Adolf Hitler, o ditador da Alemanha escarneceu do ocorrido, dizendo que os estadunidenses acreditavam no impossível, em eventos escatológicos destituídos de razão e qualquer sentido histórico, no imaginável em meio a um novo mundo ordenado pelo III Reich, segundo suas próprias palavras, "próximo do potencial pleno a ser alcançado pela humanidade".

"Sim, o homem que promoveu o Holocausto, chamou a histeria coletiva causada pela dramatização de "A Guerra dos Mundos" de irracional. Ironias da História". 

 

Independente das opiniões de Hitler, uma única lição. Fatos e ficção fazem parte de qualquer Fantástico Cenário que se preze.

9 comentários:

  1. Boa Marco! Excelente post. Gostei de saber que professores (ainda que em minoria) ainda passam esse tipo de lição aos alunos. Gostei do termo "estadosunidenses" hehehe eu uso sempre. Quando eu era bem revoltado, lá pelos meus 15, com cabelo raspado, li As Veias Abertas da América Latina, que me marcou muito e nunca mais desapeguei do termo.
    Bem-vindo!

    ResponderExcluir
  2. Valeu.
    Americanos somos todos nós.

    ResponderExcluir
  3. Muito bom. Tem uma história bem curiosa do Superman, Guerra dos Mundos, que se passa em 1938, como se a invasão fosse real, com a versão Superman 1938 combatendo os marcianos, aquela versão que saltava prédios, mais poderosa que uma locomotiva, etc.

    Não chega a ser muito bom, mas a idéia é interessante.

    ResponderExcluir
  4. Puxa. Da onde tu tira estas informações todas?

    ResponderExcluir
  5. [...] postar algo sobre isto, mas também me esquivar dos clichês sobre o assunto. O post de Marco (http://fantasticocenario.com.br/2011/07/23/guerra-dos-mundos-entre-fatos-e-ficcao/) sobre o gigantesco Orson Welles acabou mostrando uma [...]

    ResponderExcluir
  6. Do meu auto coeficiente de nerdice.

    ResponderExcluir
  7. Pois é...
    Norte americanos acreditando em invasão de ets e alemães acreditando em Hitler...
    Difícil dizer o que foi mais bizarro...
    Dá pra ver que nada mudou nestas últimas décadas, já que hoje eles acreditam até que George Bush se reelegeu honestamente...
    Ótimo post, Marco.

    ResponderExcluir
  8. Valeu.
    Ótimas observações.
    Abraços.

    ResponderExcluir

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...