quarta-feira, 15 de junho de 2011

O Drama Segundo Kurt Vonnegut

Kurt Vonnegut é um dos melhores escritores de ficção norte-americanos.

Dele, eu li o Café-da-Manhã dos Campeões e Matadouro 5, os dois saíram pela L&PM e vale a muito a pena comprar.

O texto abaixo, veio do site de Derek Sivers, onde ele demonstra as teorias de Vonnegut sobre a relação entre as histórias e a vida.

Bem interessante.

Fábio Ochôa


O drama, segundo Kurt Vonnegut


2009-09-01


Eu assisti a uma palestra de Kurt Vonnegut em Nova York há alguns anos atrás. Ele falou sobre escrever, a vida e tudo o mais.

Ele explicou por que as pessoas tem tanta necessidade de drama em suas vidas.

Ele disse, “As pessoas escutam estórias fantásticas desde o começo dos tempos. O problema é que elas acabam achando que a vida real tem que ser como nas estórias. Vejamos alguns exemplos.

Ele desenhou um gráfico vazio no quadro, como este:

empty grid

O Tempo aumenta para a direita, a Felicidade para cima.

Ele disse, “Vamos analisar o gráfico de uma estória muito comum. O conto da Cinderela.”

Cinderella story

Começa com uma vidinha horrível, esfregando banheiro e com meio-irmãs do mal. Até que ela recebe um convite para um baile, a partir daí tudo começa a melhorar. A fada madrinha aparece e ela ganha um vestido novinho e uma carruagem. Sensacional! Durante o baile, ela dança com o próprio príncipe! Ela está nas nuvens! Mas aí bate meia-noite e ela tem que ir embora. Ah, não! Que triste! Ela tem que voltar a sua vidinha ordinária, limpando banheiros. Mas não é tão ruim quanto antes, agora ela está motivada por essa experiência. Pra terminar, o príncipe vem resgatá-la e a felicidade é infinita. Eles viveram felizes para sempre.

As pessoas ADORAM essa estória! Esse enredo já foi representado milhares de vezes, em milhares de contos. E, por isso, as pessoas acreditam que suas vidas deveriam ser assim.

Ele limpou o quadro e disse, “Agora, vejamos o arco de outra estória popular: o desastre.”

disaster story

Um dia comum, numa cidade comum. Algo horrível acontece! Uma criança cai dentro de um poço! A cidade inteira se mobiliza para salvá-la. Velhos rancores são deixados de lado por causa desta tragédia e todos trabalham em sintonia. A criança é salva e tudo volta ao normal. Mas agora a vida está um pouquinho melhor, já que essa experiência os aproximou.

As pessoas ADORAM essa estória! Esse enredo já foi representado milhares de vezes, em milhares de contos. E, por isso, as pessoas acreditam que suas vidas deveriam ser assim.

O problema é que a vida real é diferente...

real life

Nossa vida passa e as coisas acontecem dentro de uma normalidade. Alguns altos e baixos, mas nenhum acontecimento histórico. Nada tão fantástico ou tão terrível que possa ser transformado em uma estória a ser repetida por milhares de anos.

No entanto, como crescemos cercados pelos enredos dramáticos de livros e filmes, passamos a acreditar que nossas vidas deveriam ser cheias de altos e baixos! Por isso que as pessoas fazem drama por nada.

Por isso as brigas. Por isso o fanatismo com esportes. Por isso fazemos drama com tudo que acontece.

Tentamos transformar nossas vidas em um conto de fadas.

3 comentários:

  1. Acho que isso acontece porque muitas pessoas vivem a vida como querem que ela seja, ao invés de vivê-la como ela é.
    Daí os desapontamentos, brigas e discussões fúteis.
    As pessoas se apegam a crenças desnecessárias como se realmente precisassem delas,e entram em parafuso quando descobrem o quanto elas são inúteis.
    Um pai de família fracassado pode muito bem se sentir o máximo quando seu "time do coração" (seja lá qual for) se torna campeão de alguma coisa.
    Mas algo muda realmente na vida desta pessoa quando isso ocorre?
    Não, e nem vai mudar se seu time for campeão do mundo por 30 anos seguidos.
    O mesmo vale para o adulto que enche a casa de figuras de ação (ou artigos de coleção, a nomenclatura é irrelevante) porque é fã de alguma franquia hollywoodiana feita para se ganhar dinheiro em cima.
    A pessoa passa a vida comprando bugigangas e para quê?
    Apenas para se exibir para os amigos e sentir-se feliz momentaneamente.
    Bem, se alguém precisa de bens materiais para ser feliz,então, teoricamente, não será feliz nunca.
    Acredito que é preciso um mínimo de sabedoria para se distinguir o que é realmente importante na vida.
    E viver segundo o "pretendo fazer", ao invés do "vou fazer", ou seja, não ser excessivamente otimista, para assim minimizar as inevitáveis decepções.
    Como dizia uma música antiga que passava em um comercial de tv aqui pelas bandas do sul "E quem sabe se a vida não é da vida a razão".
    Até a próxima.

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  2. Amigo fiquei triste por não estar nessa palestra. Parece um belo reflexo da sociedade em que vivemos. A questão do esporte nessa "felicidade" é a mais pura verdade.


    Sobre o que falei no meu blog sobre críticas te digo o seguinte: sou totalmente a favor da diferença entre as opiniões. O que defendo são críticas construtivas e não apelativas ou pessoais, que foi o que aconteceu com o rapaz que cito no blog.

    Quando fiz meu primeiro curta-metragem recebi muita pancada merecida e isso me ajudou a crescer e melhorar. O segundo foi mais bem recebido e recebeu até elogio em alguns festivais.

    Sou contra quem se acha superior.

    Abraços e viva o diálogo e a comunicação.

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  3. Pois é Renato, sabe que essa é uma das minhas implicâncias com a Internet, ou melhor, a geração Internet.
    Uma coisa que me deprime bastante são as famosas comunidades do Orkut, os comentários em sites como Omelete, etc... Tudo é tão gratuito e é um tal de fulano contradizendo ciclano com argumentações do tamanho do meu braço...

    É um pouco de pessimismo, mas a web, que nem a televisão, é uma invenção fantástica, mas geralmente com péssimo uso.

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