quinta-feira, 7 de abril de 2011

Laerte – Criador, domador e disseminador profissional de humor

Por Jacques


Laerte Coutinho é uma mistura do humor inteligente de Luís Fernando Veríssimo, a criatividade destrambelhada do Monty Python e o traço simples e elegante de Dik Browne (criador de Hagar, o Horrível).


Características que fazem dele um dos maiores (e melhores) cartunistas em atividade em nosso país,


Os temas utilizados em suas histórias e cartuns são os mais variados possíveis, da insignificância do ser humano perante a imensidão do Cosmo à falta de manteiga no café da manhã.




Além de ter trabalhado como repórter e redator televisivo (como nos programas TV Pirata, Sai de Baixo e TV Colosso), junto com Angeli e o saudoso Glauco, Laerte publicava suas tiras e histórias nas revistas undergrounds Circo e Chiclete com Banana (recentemente republicada em partes pela L&PM Pocket), onde estes três, além de publicarem seus trabalhos solo, uniam forças para criar as histórias de Angelito, Glauquito e Laertón, suas contrapartes bidimensionais (tiradas do filme homônimo de John Landis, com Steve Martin, Chevy Chase e Martin Short) conhecidas como Los Tres Amigos.


Estes esculachados assassinos de Miguelitos (pirralhos, em bom português) perambulavam sem rumo por uma terra sem lei (que parece ter sido tirada dos faroestes spageti de Trinity), matando, roubando, abusando de mocinhas indefesas (ou não) e tramando novas formas de se ganhar dinheiro à custa dos outros.


E se dando mal no processo, é claro.



Foi nesta época que Laerte popularizou os personagens pertencentes ao Condomínio, como Os Gatos (o casal suburbano e suas discussões amorosas fúteis; Garfield fez algumas aparições esporádicas nestas tiras, mas, por problemas de copyright, usava capote e chapéu e recebeu a alcunha de “Mister G”); o Grafiteiro (revolucionariozinho de portaria de prédio); o Zelador (trabalhador assalariado medíocre); Don Luigi (mafioso amoral e religioso) e sua famiglia; Mário, o Síndico (senhor de meia idade cheio de manias que odeia crianças) e sua esposa, Leonor; o Coronel Douglas Capricórnio (refugo recalcado da ditadura militar); Fagundes, o Puxa Saco (funcionário público viciado em bajulação sem noção), entre outros.


Temos ainda os impagáveis Piratas do Tietê (nome da revista criada por Laerte após sua saída da Chiclete), que são tão amorais e anárquicos que deveriam virar filme; o paciente e pragmático Deus (acompanhado de Adão, o arcanjo Gabriel e um sem número de anjinhos pelados) tentando responder às eternas dúvidas existenciais de seus acólitos; Suriá, uma menina crescendo no mutável mundo do circo, entre outros.



Talvez o personagem mais engraçado de Laerte seja Overman, um nada convencional super-herói homossexual de inteligência nível Groo que mora em uma pensão para solteiros, se prostitui para poder comprar fichas de fliperama e não sabe quem é na vida real, pois toda vez que ele tenta tirar o uniforme, a campainha toca.


Seus inimigos são igualmente bisonhos: o Homem do Trote vive aplicando trotes em Overman e nunca apareceu; o Maníaco Flatulento usava seus indesejáveis talentos para semear o terror (Overman “acidentalmente” deixou-o cair dentro de um vulcão ativo); Pane era uma vilã que conseguia fazer com que as máquinas parassem de funcionar e a anabolisada Alexandra deu uma surra em Overman e o fez engolir seu orgulho junto com a capa.


Minhas histórias preferidas dele são A Revolta dos Homens Pizza (pizzas sencientes com braços e pernas que estavam sendo exterminadas pela gulodice humana) e Dona Mercedes (uma professora sádica com métodos pouco ortodoxos de ensino). 


Estas histórias soltas, originalmente publicadas nas revistas Chiclete com Banana, Circo, Os Piratas do Tietê e Geraldão, foram compiladas pela Devir, assim como Os Piratas do Tietê, que tiveram suas tiras republicadas pela Editora L &PM Pocket e ganharam três encadernados contando toda sua insana trajetória intitulados Piratas do Tietê – A Saga Completa, pela Editora Jacarandá.


Overman teve suas tiras reunidas no especial Overman – O Álbum, o Mito, pela Devir/Jacarandá, e os Gatos tiveram o especial Gatos – Bigodes ao Léu, pela Devir.                                               


As tiras aleatórias de Laerte publicadas na Folha de São Paulo (e em diversos jornais pelo país afora) e na revista Striptiras foram reunidas nos especiais Classificados e Deus teve até agora três coletâneas, Deus segundo Laerte, Deus 2 – A Graça Continua e Deus 3 – A Missão, pela Editora Olho D’ Água.


Pouco tempo atrás ele lançou o livro Laertevisão (pela Editora Conrad), onde relembra as experiências e descobertas que teve na frente da telinha.



Embora nos últimos anos Laerte tenha mudado um pouco o foco de suas tiras para temas mais “cabeça” (chamados assim porque dão dor de cabeça), ele ainda é um destes poucos artistas que conseguem fazer rir ao revelar o surreal e o absurdo que se escondem no cotidiano de cada um de nós.


E faz isso de forma genialmente simples.


O que, convenhamos, não é nada fácil.

5 comentários:

  1. gosto muito do Laerte, piratas do tietê é uma das coisas mais legais em tiras de humor, na minha opinião, e esses encadernados que você citou são fantásticos. Também li recentemente o Laertevisão, e considero uma biografia diferente e muito bacana, já que ela trata mais de como suas referências influenciaram sua vida. Agora, vou atras do Muchacha, que saiu pela companhia das letras.
    ah, obrigado pelas dicas que você passou no blog! tem MUITA coisa legal mesmo nas sugestões que você mandou!
    um abraço!

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  2. Laerte realmente vale a pena.
    Ele consegue fazer rir e pensar ao mesmo tempo.
    Nas dicas que eu te deixei, eu gostei dos álbuns de figurinhas antigos, principalmente porque eu não os conhecia.
    Até mais.

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  3. Acho que a maioria das tirinhas que eu li foi nas gramáticas e livros de português durante o ensino médio. Eu até pegava esses livros só para ler as tirinhas, mas nunca comprei uma publicação do Laerte. Envolvendo ele, eu gostei muito do vídeo "Dossiê Rebordosa". Vc já viu? Recomendo! (Acho que já deve ter visto porque é antigo e vc parece fã dele...)

    O arquivo está em escrito, gostei de ler e descobrir que existe uma personagem dele chamada Alexandra. A tirinha que fala do Tiririca também está ótima! Ele soube ilustrar muito bem a situação e de forma sútil.

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  4. Pois é, Larissa, eu também lembro de ler alguma tiras dele em livros de Biologia.
    Ainda não assisti ao Dossiê Rebordosa (personagem criada pelo antigo amigo de Laerte, Angeli, que confidenciou que a matou por causa de seu comportamento incompatível com os novos tempos onde a AIDS está presente em todas as camadas sociais), que parece ser divertido.
    Que eu lembro, a Alexandra é um dos muitos inimigos do impagável Overman (e, numa briga, o fez engolir a capa), que, se cair de quatro no chão, não levanta mais.
    O Tiririca eu acredito que foi eleito através do "voto burro" ou "voto de protesto" (o mesmo que elegeu o Clodovil), e Laerte não perdeu tempo em criticar as pessoas que o criticam, mas são tão ignorantes quanto ele.
    Valeu pelo comentário e apareça sempre.

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  5. Ainda bem que eu introduzi falando sobre a minha falta de conhecimento sobre tirinhas =x Fiquei com vergonha da confusão que eu fiz entre o Laerte e o Angeli, mas paciência! Enfim, agora eu não confundo mais!

    Irei sim, ler seus posts!

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