sábado, 18 de setembro de 2010

Preacher – Um pregador à caça de Deus

Por Jacques


“Só existem dois lugares onde você pode encontrar Deus: na igreja e no fundo de uma garrafa. E eu vou lhe contar uma coisa: na igreja, ele não está!”


É com esta frase seca como um soco no estômago que começa a hq Preacher, criada e escrita por Garth Ennis, com desenhos de Steve Dillon e capas de Glenn Fabri, que é uma destas histórias que, se não existisse, obrigatoriamente teria de ser inventada.


Lançada pelo selo Vertigo, da DC Comics, em 1996, Preacher percorreu um caminho oposto ao das hqs adultas anteriores, juntando humor sádico e politicamente nada correto, violência extrema, situações absurdas, personagens carismáticos e bizarros e uma trama muito bem bolada.




Esta hq narra a jornada do texano Jesse Custer, que tornou-se pregador contra sua vontade e hospedeiro de uma entidade incorpórea chamada Gênesis, filha de um anjo e uma demônia (Ellie, aliada de Constantine, que, na época, também era escrito por Ennis), que lhe dá o poder de obrigar as pessoas a fazerem o que ele mandar, desde que entendam a ordem.


A entidade Gênesis era prisioneira dos anjos, e, através deles, Jesse fica sabendo que Deus abandonou o Paraíso e a espécie humana, e, por isso, ele resolve ir atrás do Criador para usar seu poder nele e dizer algo como “Aí, Safado! Volte ao serviço!”.


Nessa busca, Custer é acompanhado por sua amada Tulipa, que foi criada por um pai que adorava caçadas (e foi morto em uma delas) e por Cassidy, o vampiro irlandês que talvez seja o mais engraçado e humano bebedor de sangue que já existiu, pois só queria curtir a vida e encher a cara (Não, ele felizmente não é um vampiro de rpg!), sem essas bobagens de morte em vida e solidão eterna, que desmoralizam os vampiros e só agradam a adolescentes descerebrados.  




[caption id="attachment_3779" align="alignleft" width="300" caption="Cassidy de Glenn Fabri"][/caption]

Contra esse trio nada convencional atuam o Graal, uma organização religiosa que, após ficar ciente do poder de Jesse, planeja usá-lo para que ele se torne o novo Filho de Deus na virada do milênio e o Santo dos Assassinos, um veterano de guerra que, após ser morto no século XIX tentando vingar a morte de sua esposa e filha, foi para o Inferno, onde seu ódio ameaçou congelá-lo e, para evitar que isso acontecesse, o demônio chefe do lugar o expulsou e o tornou total e completamente imortal, para que não houvesse a possibilidade dele voltar lá.


 Pois é esse sujeito pouco simpático que os anjos mandam caçar Jesse, para remover Gênesis dele, pois é poder demais para um mortal.


Essa hq marca o amadurecimento de Garth Ennis, que demonstrou pleno domínio da trama e facilidade de conduzir personagens e situações, simplesmente passando por cima dos clichês e regras das hqs mais certinhas.



E em Preacher também é mostrado o ponto forte das hqs de Ennis, que é o desenvolvimento interno dos personagens, mais humanos do que muita gente por aí.


Preacher é uma leitura obrigatória, pois nela Garth Ennis simplesmente jogou fora o freio de sua imaginação e cinismo, criticando a sociedade, os falsos valores hipócritas em que ela se baseia e o comodismo do cidadão comum.


Enfim, ele junta uma história genial com humor e uma ferrenha crítica social.


O que é que se pode esperar mais de uma hq?

2 comentários:

  1. preacher é realmente uma hq incrível, nem dá pra acreditar que ainda não saiu inteira no Brasil. e, diferente de alguns trabalhos que o ennis fez depois, a violência serve para acentuar a trama, sem ser o único fator que chama a atenção.
    tem gente falando em fazer filme,série de tv e por ai vai, mas eu quero ver alguém conseguir adaptar algo tão "subversivo" pra outras mídias sem tirar tudo que a hq tem de legal.
    um abraço!

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  2. E aí, Vinícius,
    Junto com Sandman e Watchmen, Preacher é uma das minhas hqs preferidas.
    Sobre a adaptação, eu ouvi dizer que vai virar trilogia com censura 18 anos, o que, infelizmente, irá restringir bastante o público, mas não tem jeito mesmo, já que a forte carga de violência é inerente à série.
    Até mais.

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