terça-feira, 20 de julho de 2010

Viagem na Irrealidade Cotidiana, de Umberto Eco

Por Jacques


Umberto Eco é como os personagens da série de jogos Unreal Tournament: ele não faz prisioneiros.


Neste livro da Editora Nova Fronteira, que contém artigos reunidos ao final da década de 70 e início da de 80, o autor do genial O Nome da Rosa mostra porque é um dos autores mais sérios (mas não o tempo todo), competentes e respeitados da atualidade.


O livro engloba experiências pessoais de Eco (como quando ele tinha 13 anos de idade e foi pela primeira (e talvez única) vez na vida, a um jogo de futebol. Resultado: não conseguiu achar graça nenhuma e viu que não seria mais um a se escabelar e chorar de desespero porque seu “time do coração” perdeu um jogo), críticas ao modo de vida atual, aos pseudo-intelectuais (que só sabem seguir fórmulas prontas) e à televisão (que, segundo ele, fez com que as pessoas passassem a dissociar o que é visto nela do que acontece de verdade).


Também fala sobre semiologia (o estudo do significado dos objetos comuns usados em nosso cotidiano), a artificialidade e superficialidade da Disneylândia (onde os visitantes são tratados como gado no corredor de abate), os aspectos cíclicos dos modismos (como o “novo” de hoje não passa do “novo” de 30 anos atrás; só que um pouco mais (ou menos) ridículo) e a forma como os telejornais passam as notícias aos telespectadores (enxertando notícias ruins no meio de notícias mais amenas e evitando a análise crítica).


O único defeito do livro é o aspecto regional de alguns de seus textos, mas isso não chega a comprometê-lo em nenhum momento.


Aqui Umberto Eco mostra que não veio ao mundo para ser uma pessoa agradável, meiga e compreensiva, amiga das pessoas e dos demais seres vivos deste belo, porém maltratado, planeta.


Nada disso.


Ele veio ao mundo para dizer às pessoas aquilo que elas precisam ouvir; ao invés do que elas querem ouvir.


Ou seja, para educar.

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