quinta-feira, 15 de abril de 2010

Cigarro e cinema

Por Jacques


Que o hábito de fumar faz mal à saúde, até bebê de colo sabe, e as desculpas que muitos usam para continuar com este hábito detestável são as mais variadas possíveis; a estatisticamente estapafúrdia (Conheci um senhor que fumava três maços de cigarro por dia e morreu aos 98 anos!), a Invulnerabilidade Auto-Imposta (Eu acho que nada vai me acontecer!), a pseudo-zen (Eu fumo para conseguir a alteração de consciência...), entre meio milhão de outras desculpas igualmente esfarrapadas.


Boa parte do sucesso comercial do cigarro veio das campanhas publicitárias onde já apelaram para o Papai Noel, as Forças Armadas dos EUA, Joe Camel (um camelo antropomórfico com visual atrativo para jovens), o cowboy solitário e os esportes radicais (onde, paradoxalmente, se associava o vício do fumo à liberdade).



Mas com certeza a maior propaganda de cigarros da História foi feita pelos atores e atrizes de Hollywood, que, no início, não faziam a menor ideia do estrago que estavam fazendo nos pulmões e cérebros dos espectadores.


Bette Davis foi uma atriz que apareceu fumando em alguns de seus filmes, já que, naquela época, o cigarro era utilizado pelas mulheres como uma forma de se buscar a igualdade entre os sexos.


Groucho Marx, James Dean, Clark Gable, Humphrey Bogart, Gary Cooper e John Wayne eram alguns dos atores que fumavam  em seus filmes e alguns deles pagaram com a vida por isso; Humphrey Bogart morreu de câncer de pulmão em 1957,  assim como Gary Cooper em 1961 e John Wayne em 1979.




[caption id="attachment_3892" align="alignright" width="192" caption=""Ho, ho (cof! cof!) ho!""][/caption]


Por sinal, o mito da macheza do cowboy norte-americano foi utilizado à exaustão nos anúncios de um cigarro (que causaram a morte de três atores que interpretavam o cowboy) que é produzido pela empresa que ficou conhecida como “Philip Morris de Câncer”.


Este mesmo cigarro aparece na lateral de um caminhão (que não existe na vida real e foi criado especialmente para isso) na luta do Super-Homem contra os fugitivos da Zona Fantasma em Superman II, de Richard Lester, e foi neste mesmo filme que Lois Lane aparece fumando compulsivamente pela primeira vez na história da personagem.


A tradição fumacenta prossegue nos dias de hoje, só o que mudou foi a desculpa, que passou do “Pessoas sofisticadas e descoladas fumam! Seja uma delas!” para o “Pessoas comuns fumam... Não se envergonhe disso...”


Outra desculpa para se mostrar atores fumando é a de que se o filme está retratando fatos e pessoas reais e estas pessoas fumavam, o cinema tem a “obrigação” de mostrá-las fumando.


Só que não dizem que estas pessoas provavelmente fumavam por causa dos filmes veiculados naquela época, o que parece piada de mau gosto, tanto literal quanto figurativamente.


O que também parece piada é a postura hipócrita do Governo, que se mostra na censura, que, só para exemplificar, substituiu o cigarro na mão direita da atriz Audrey Tautou, no cartaz do filme “Coco Antes de Chanel”, de Anne Fontaine, por uma caneta na versão nacional.


Este falso senso de preocupação com os fumantes também é mostrado nas foto-montagens mostradas nas carteiras de cigarros, onde são enfatizados os malefícios e enfermidades que eles originam, e servem também para dar ao Governo uma desculpa aceitável para ele poder tirar o corpo fora (Seu parente morreu por fumar demais? Poxa, mas que pena... Mas ele foi avisado, não foi?).




[caption id="attachment_3894" align="alignleft" width="240" caption="Audaciosamente fumando onde nenhum homem jamais fumou antes?"][/caption]


Mas aí vem à mente a pergunta idiota” Se o Governo está dizendo o que todo mundo sabe, que o cigarro faz mal mesmo, então porque não proíbem sua venda?”


A resposta é bem simples: os milhões arrecadados com os impostos (que nada mais é do que a função primordial do Governo).


E acontece que, no Brasil, a proibição não adianta nada; estão aí a cocaína, maconha, ecstasy, anfetaminas, heroína, anabolizantes de uso veterinário e remédios de tarja preta que não me deixam mentir.


O cigarro apenas proporciona, além da patética satisfação momentânea, aquilo que é citado em uma expressão que ficou bem conhecida no ótimo filme Encontro Marcado, de Martin Brest: morte e impostos.

3 comentários:

  1. O problema é que te muito mais coisa envolvida nessa questão do que só impostos. A quantidade de gente que ficaria desempregada ia ser muito grande- desde agricultores, a operários de fábricas de cigarro e atravessadores do produto - o que torna a situação mais crítica e sem solução.
    A bebida alcoolica é outro exemplo. Não traz nenhum benefício, causa acidentes de transito mortais diariamente, pode causar vício... E também é legal.
    Na verdade, cara, pouca coisa que consumimos - incluindo o ar - não faz mal à saúde. agrotóxicos, açucar, clóro... Tem veneno em tudo. Não tem como acabar com cada coisa que faz mal à saúde, ou vamos voltar à idade média.
    O ideal seria educar as pessoas à não consumir substâncias que causam mal à saúde, e matar as indústrias morrerem à mingua, pra que parte dos trabalhadores destas áreas possam ir lentamente se reposicionando no mercado.
    Só que como tu bem dissestes, o governo não tem interesse nisso. Tornar o povo brasileiro educado coibiria a corrupção, e isso o governo nunca vai permitir.
    Eu sacio minha sede com cloro, me alimento de agrotóxicos e me deleito com açucar, o que sei que tá me matando e eu não tenho alternativa. E quando paro pra refletir, fumo e bebo um alcoolzinho pra piorar a situação. Tudo dentro da lei, com consciência e convicção e seguindo a ordem natural das coisas, amém!

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  2. cara, bem simples: todo mundo sabe que fumar faz mal, quem fuma, fuma por que quer. já boicotaram pra caramba as propagandas de cigarro,e por mi, nem precisavam existir, mas eu fumo e o mínimo que eu espero do resto da população, é que respeite minha opinião; afinal, não saio por aí condenando quem come demais, bebe demais, vê Crespúsculo ou usa qualquer outra droga, lícita ou não.

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  3. Quando a pessoa fica se justificando...

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