quarta-feira, 27 de abril de 2011

O Esquadrão Suicida de John Ostrander

Por Jacques


Lançada em plena década de 80, esta foi uma das primeiras hqs do gênero super-heróis a conseguir se desvencilhar do infantilóide estereótipo herói x vilão.

O que se tinha aqui era vilão x vilão pior.


Esta insólita equipe surgiu na década de 50 e era composta por criminosos que tinham de cumprir missões suicidas e, em troca, tinham sua liberdade garantida ou seu tempo de encarceramento reduzido.


Esta versão do Esquadrão era formada por meta-prisioneiros (ou por humanos normais extremamente habilidosos) e surgiu durante a tenebrosa mini-série Lendas (que serviu apenas para se reformular a Liga da Justiça, originando a equipe absurda e esculachada de Keith Giffen e J. M. De Matteis).



Seus integrantes recebiam ordens de Amanda Blake Waller (que no desenho da Liga da Justiça era vinculada ao Projeto Cadmus e chamou Batman de “riquinho”), que também comandava o Xeque-Mate e conseguia amansar os criminosos mais irascíveis, e o coronel Rick Flag Jr. (filho do capitão Rick Flag, líder do Esquadrão Suicida original), que tratava os integrantes do Esquadrão como o que eles eram: criminosos amorais e sádicos.




[caption id="attachment_3635" align="alignright" width="219" caption="Vovó Zona + Sargento Tainha = Amanda Waller"][/caption]

A primeira equipe foi formada por Floyd Lawton, o Pistoleiro (dotado de mira praticamente perfeita e vasto conhecimento de balística), George Digger Harness, o Capitão Bumerangue (velho inimigo do Flash (Barry Allen) e exímio atirador de bumerangues dotados de diferentes finalidades), June Moon, a Magia (feiticeira que só tinha poderes quando seu alter ego (Magia) assumia o controle de seu corpo), Ben Turner, o Tigre de Bronze (mestre em diferentes estilos de luta) e Mark Desmond, o Arrasa-Quarteirão (típico brutamonte com q.i. de tapioca).


Para se (tentar) evitar fugas, todos aqueles que eram enviados em missões eram obrigados a usar braçadeiras armadas com explosivos
que seriam acionados se seu usuário se afastasse determinada distância do coronel Flag (nas histórias mais atuais, estes dispositivos arcaicos foram substituídos pela injeção de nano-partículas).


 Como os chefes do Esquadrão tinham acesso à prisão de meta-humanos de Belle Reve e o Asilo Arkham, com o passar do tempo, uma boa parte do vilanário (Essa palavra existe? Agora existe...) do UDC passou pelas suas fileiras, o que evitava que ele se tornasse um título cansativo.


As missões do grupo envolviam subtração de tecnologia e armamento inimigo, extermínio de grupos terroristas extremistas e “ataques preventivos” a milícias armadas potencialmente perigosas.


O mais divertido do Esquadrão era que SEMPRE tinha um vira casaca no grupo, que, para fugir (ou simplesmente sair ganhando com isso), só faltava entregar os companheiros amarrados e com uma maçã na boca.


Só para citar um exemplo do vácuo moral e sociopatia dos personagens, em uma missão de campo, em uma floresta qualquer de alguma republiqueta sul-americana, Bumerangue e Amarra (Christopher Weiss) estavam isolados dos demais e Bumerangue o convence de que as braçadeiras não passavam de blefe.


Ele então sai correndo e se ouve uma explosão e um sonoro ”AAAAAAHHHHHH!”.


Bumerangue sorri cinicamente e pensa:


- Foi mal, Amarra... Mas eu tinha de ter certeza!


Amarra reapareceu (sem um dos braços) tempos depois na genial mini-série Crise de Identidade, de Brad Meltzer e Rags Morales, usando o codinome “Nó Corrediço”.


Ostrander ainda colocava seus personagens em meio a conflitos étnico-raciais e sócio-políticos envolvendo interesses elitistas, como mostrados no Superpowers 25 (em uma história escrita em 1990), onde o Esquadrão parte para a União Soviética para investigar um assassinato supostamente cometido pelo meta-humano Ivan Illych Gort, vulgo Stalnoivolk (“lobo de aço”, em russo) e se vê em meio a uma trama criada para colocar a União Soviética em guerra com a fictícia República da Vlatava e, assim, desmoralizar e substituir Mikhail Gorbachev, que foi deposto em 1991.




[caption id="attachment_3641" align="alignleft" width="300" caption="Pistoleiro x Manticore"][/caption]

Em um dado momento da série, John Ostrander é auxiliado no roteiro por Kim Yale (que também escrevia com ele as hqs de Mark Shaw, o Caçador, que chegou a fazer parte do Esquadrão sob a alcunha de Mosqueteiro (seu uniforme era ainda pior do que o codinome)); acho que isso ocorreu porque ele também escrevia na época o Nuclear e o Gavião Negro (em parceria de Timothy Truman).


Os desenhistas eram Luke McDonnel, John K. Snyder e Geoff Isherwood, que se caracterizavam pelo sombreado dos cenários e a representação mais natural (sem os exageros do estilo “cara fortão e mulher estupidamente gostosa” que imperou na década de 90) da figura humana.


Nesta hq se falava de geopolítica e economia a nível global, pois, assim como o Exército norte americano, o Esquadrão tinha de realizar missões (passando por cima de quem estivesse na frente) com o intuito de manter o quadro hegemônico mundial (traduzindo: o bem estar econômico dos EUA).


E John Ostrander usou esta hq (assim como Denny O’Neill e Neal Adams fizeram com o Lanterna Verde e o Arqueiro Verde no início da década de 70, ao colocar nas hqs as mazelas dos EUA)


John Ostrander usou esta hq para falar de geopolítica e economia a nível global, pois, assim como o Exército norte americano, o Esquadrão tinha de realizar missões (passando por cima de quem estivesse na frente) com o intuito de manter o quadro hegemônico mundial (traduzindo: o bem estar econômico dos EUA) e explicar os (injustificáveis) motivos de terem de fazer isso.

Ou, pelo menos, tentar.

8 comentários:

  1. Cara, escreves demais. Adoro teus posts. Realmente mostra que tem conhecimento sobre literatura e quadrinhos. Não é mais um wannabe teenager tentando convencer os outros a gostarem de Marvel/DC ou mangá. Sempre com algo inteligente a colocar. Parabéns.

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  2. Valeu o elogio.
    Eu escrevo os posts que gostaria de ler.
    Simples assim.
    E tente não discutir com o pessoal, já que isso não vale a pena.
    Eu também não concordo com tudo que meus amigos postam, mas isso não é motivo para discutir.
    Deve-se respeitar para ser respeitado.
    E duvido que alguém aqui queira ser adolescente de novo.
    Para quê?
    Cometer os mesmos erros de novo?
    Não, obrigado.
    Até mais.

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  3. Concordo Jacques, realmente ótimo seus posts. O que pegou foram as frases que o Domenico escreveu. Aquilo me irritou profundamente. Mas sossegado, agora só estou me defendendo e nunca baixei o nível. Mas obrigado pela resposta, mostra que é um cara legal dentro e fora da internet.

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  4. Ô, saco! Aqui também! Mas eu nem comentei nesse post, porcarias ininterruptas!!!

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  5. bons tempos. comprando um gibi da liga da justiça vc acompanhava a fase cômica de Giffen e dematteis, o nuclear de ostrander e o esquadrão! mas na revista, o esquadrão fornecia a densidade!
    até mais!

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  6. Sem dúvida, Vinícius.
    Além da seriedade da hq, o divertido era o suspense sobre QUEM seria o traidor da vez.
    Esta foi uma hq que valeu a pena.
    Até mais.

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  7. Clássico. Adorei as histórias que li do Esquadrão.

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  8. Valeu.
    Bem que se poderia criar hqs assim hoje.
    Sonhar não custa nada.
    Até mais.

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